A cocaína fabricada num laboratório caseiro em Santa Maria da Feira, distrito de Aveiro, começou a circular na região do Minho antes de ser vendida em maior escala para todo o país.
O anúncio foi feito ontem pelo inspetor Rogério Magalhães, coordenador da Polícia Judiciária de Braga, dando conta dos movimentos iniciais da investigação que levou à detenção, ontem, de três indivíduos suspeitos de gerirem o laboratório e de estarem envolvidos no tráfico da droga lá produzida.
Os três arguidos foram hoje levados ao Tribunal de Guimarães, mas a leitura de medidas de coação foi adiada para sexta-feira.
Os detidos são dois sul-americanos, já com cadastro por tráfico de droga, e um português, todos com idades entre os 54 e os 59 anos.
Segundo explicou o inspetor da PJ de Braga, a empresa do principal arguido, o líder, é de importação e exportação, e servia para branquear o dinheiro obtido com o tráfico. Daí que não tenha sido apreendido nenhum.
De acordo com a mesma fonte, o laboratório tinha capacidade para produzir 5 a 10 kgs por dia, conforme as necessidades do mercado. Não tinha meios para fabricar toneladas ou centenas de quilos, pois funcionava como uma pequena empresa para não ‘dar nas vistas’.
A atividade em causa, que pretende substituir o tráfico de droga através de narcolanchas, seria recente e a investigação durou poucos meses até serem apanhados.
Pasta de coca 10 a 20 vezes mais barata
As autoridades portuguesas e europeias estão preocupadas com a introdução deste tipo de negócio. Nos países produtores de cocaína há dificuldades – legais e outras – de compra dos químicos necessários, o que não sucede na Europa. Este será o 3.º apanhado em Portugal, a transformar pasta de coca (que é muito mais barata do que a cocaína final). Dez a 20 vezes mais barata.
E, na importação de pasta o risco de apreensão na fronteira é menor. Com o aumento dos fluxos migratórios torna-se mais fácil a introdução do produto.
Apanhados em Santa Maria da Feira
Como O MINHO noticiou ontem, a Polícia Judiciária (PJ), através do Departamento de Investigação Criminal de Braga, desmantelou um laboratório de droga em Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro, detendo três suspeitos de estarem associados à sua atividade.
De acordo com um comunicado da PJ divulgado ontem, a investigação conseguiu obter “a localização de um armazém isolado, em Santa Maria da Feira, no qual funcionava um ‘laboratório’, de dimensões consideráveis, destinado à transformação de pasta de coca em cloridrato de cocaína”.
Na sequência da investigação, foram detidos “três suspeitos de crimes de tráfico de estupefacientes agravado, associação criminosa, branqueamento de capitais e falsificação de documentos”, sendo dois estrangeiros e um português, que serão presentes às autoridades judiciárias para interrogatório e aplicação de medidas de coação.
“O início da investigação centrou-se na atividade ilícita desenvolvida por um cidadão estrangeiro” que alegadamente vendia droga “utilizando identidade falsa, com a qual titulava uma sociedade comercial”.
O homem “foi utilizando esquemas aparentemente legais para fazer uso de meios e arrendamento de espaços onde, de forma dissimulada e aparentemente legal, pudesse desenvolver a atividade de aquisição internacional e transformação em produto estupefaciente”.
No decorrer das buscas efetuadas pela PJ, acrescenta, foram visadas residências e armazéns, “constatando-se a presença de abundante material, centenas de litros de químicos, benzinas, ácidos e outros, bem como toda uma estrutura e parafernália apta a produzir, em processo contínuo diário, de entre cinco a 10 quilogramas de cocaína”.
“A operação permitiu, ainda, a apreensão de pasta de coca e cocaína, em quantidade que se estima em cerca de 15 quilogramas, suficientes para 75 mil doses individuais, bem como dezenas de quilogramas de precursores e substâncias de preparação”, refere também a PJ.
A operação, denominada Cristal Lab, foi realizada pelo Departamento de Investigação Criminal de Braga, com a colaboração da Diretoria do Norte, contando com a presença de peritos da delegação do Laboratório de Polícia Científica e a colaboração da GNR.
Com Luís Moreira, Ivo Borges e Lusa.