Michele Mouton despede-se do Rali de Portugal em que se desviava das árvores e do público

Foto: DR

A francesa Michele Mouton despediu-se do Rali de Portugal, que venceu em 1982, após a “melhor edição de sempre”, vencida pelo compatriota Sebástien Ogier, recordando uma prova em que tinha de se desviar do público e das árvores.

Aos 72 anos, a antiga piloto, única mulher a vencer provas do Campeonato do Mundo de Ralis (atual WRC), considerou que a 57.ª edição da prova portuguesa “foi fantástica”.

“É um evento magnífico, muito bem organizado. Aqui, a paixão dos espetadores é incrível. Acho que nunca vi tanta gente em Fafe como este ano. Havia muita gente em todo o lado. As pessoas querem ver os carros, nem sequer querem ver os pilotos. Por exemplo, não havia ninguém no reagrupamento. Mas querem ver os carros em ação e os pilotos ao volante”, frisou a atual delegada de Segurança da Federação Internacional do Automóvel (FIA).

Apesar dos elogios, Michele Mouton apontou alguns pormenores que não apreciou.

“Não gostei muito da [especial] que foi refeita [Amarante], porque ficou muito larga e fácil. Mas os pilotos gostaram. Para mim, as características de Portugal são as especiais de Fafe ou Cabeceiras. Mas foi um evento positivo e gosto muito dos portugueses. Além disso, ainda se lembram de mim, o que é incrível”, comentou.

A antiga piloto diz que o Rali de Portugal passou de ser um dos piores exemplos em termos de segurança, há 40 anos, para o melhor do Mundial, atualmente.

“Nem se podem comparar os tempos. Quando eu corria, não havia segurança nenhuma, de todo. Tínhamos de tentar não acertar em ninguém. Era assustador para os pilotos mas o que se havia de fazer? Estavam por todo o lado. Parávamos de correr? Não era possível. Tentávamos não tocar em ninguém, nem sei como conseguíamos, mas não tínhamos escolha. Hoje é difícil perceber como fazíamos isso. Quando estávamos nas especiais sabia que tinha de evitar os espectadores da mesma forma que tinha de evitar as árvores”, explicou.

Hoje em dia, “as pessoas são responsáveis e não querem perder o rali, pelo que se portam bem e colocam-se nos locais corretos”.

“Para os pilotos, é um alívio não ver pessoas mal colocadas, à saída das curvas, porque é assustador. O piloto pode conduzir sem temer nada. É o que eu gostaria de ver em todas as provas do campeonato. Antes, eram um dos piores exemplos e hoje são um dos melhores, se não mesmo o melhor”, disse.

O ano de 2024 marca, também, a despedida da antiga piloto das funções que desempenha na FIA, como presidente da Comissão das Mulheres nos Desportos Motorizados.

“Comecei em 1973 e em breve vou ter 73 anos, achei que era boa altura para parar. É incrível ter todas estas memórias. É muito emotivo. Fiz o meu trabalho e o espetáculo tem de continuar”, concluiu.

 
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