Neste Artigo
Milhares de pessoas voltaram às serras de Fafe neste fim de semana numa outra peregrinação nacional que parece ganhar cada vez mais adeptos, dando espetáculo digno dos carros que participaram em mais uma edição do Rali de Portugal.
Desde sexta-feira que adeptos da modalidade acampam na Lameirinha e em outros pontos daquela serra, que voltou a ter um espaço de comes e bebes com uma tenda gigante, por entre as eólicas que prosseguiam a gerar energia ao seu ritmo.
A criatividade dos populares voltou a ser um marco desta prova final que consagrou o francês Sebastien Ogier como campeão do Rali de Portugal pela sexta vez na história.
Ogier terminou as 22 especiais com o tempo de 3:41.32,3 horas, deixando na segunda posição o estónio Ott Tänak (Hyundai i20), a 7,9 segundos, com o belga Thierry Neuville (Hyundai i20) em terceiro, a 1.01,9 minutos.
Mas o resultado final pouco importa para quem vai assistir à competição num local tradicionalmente isolado que se transforma numa cidade iluminada na madrugada da prova junto ao mítico “salto da Pedra Furada”.
Bifanas, música pimba e tantas motosserras em Fafe
“Coisinha Sexy” ouvia-se, com o volume no máximo, numa coluna gigante montada no alto de uma plataforma de metal, onde um grupo de Terras de Bouro ia dançando e cantando. Desafinados, mas felizes.
“Damos música e alegria a toda a gente. A coluna está sempre a bombar enquanto houver corrente elétrica”, contou à Lusa Filipe Rosas, de 25 anos.
Mais à frente, um grupo de jovens de Felgueiras comia bifanas e bebia cervejas, ouvindo música.
“Viemos de Felgueiras com muita vontade de fazer a festa do rali de Portugal”, contou Vítor Ribeiro, que logo exibiu umas gaitas que soavam, estridentes, para a multidão.
De ano para ano, são cada vez mais os pontos de venda de cachorros quentes, formando uma alameda empoeirada, com cheiro a ‘fast food’, nas proximidades do salto, onde hoje se podiam ver longas filas de aficionados.
“Venho todos os anos”
Helena Azevedo, de Santo Tirso, de 27 anos, acompanhada de nove amigos, contou à Lusa que todos os anos vêm ver o rali a Fafe.
“Passámos aqui a noite. Isto é sempre incrível, aquilo que nos traz aqui, mais do que os carros, é o espírito”, disse. Na mesa do seu grupo, junto ao carro, viam-se muitas cervejas, mas logo comentou, sorrindo: “Isto é sair um bocadinho da regra, mas faz parte destes dias”.
Alguns vêm de bicicleta
Cansado estava César Gonçalves, de 35 anos. Fazia parte de um grupo de ciclistas de BTT, de Fafe. “Subimos a serra de bicicleta todos os anos, é a tradição. O que gostamos é o ambiente. É um orgulho ter isto na nossa terra”, contou.
Os campeões da animação, mas sobretudo da cerveja, assim se reclamavam, são uns aficionados que montam a tenda há vários anos, no mesmo sítio. Vêm de Leça do Balio (Matosinhos) e exibem, orgulhosos, mais de 600 garrafas de cerveja, um novo recorde, consumidas desde sexta-feira, ouvindo Quim Barreiros.
“Eu sou a mascote do grupo”, contou um jovem, exibindo centenas de ‘minis’ penduradas em fila, em fios, e outras colocadas no tejadilho de um automóvel, motivando sorrisos e centenas de fotografias de quem passava pelo local.
Trata-se da “tenda da Super Bock”, que fica na sua “terra”, contou, prometendo que, para o ano, o grupo vai pedir um patrocínio àquela marca de cerveja.
“Nós costumamos dizer que não vimos aqui pelos carros, é mais pelo convívio. Fazemos aqui muitos amigos e para o ano cá estaremos”, contou, convidando o repórter para o almoço.
“Aqui é vinho de garrafão”
Noutro ponto estava Miguel Lima, de 26 anos, de Leitões, Guimarães, “a terra onde D. Afonso Henriques bebeu a primeira tigela de espadal [tipo de vinho verde tinto]”, gracejou. Na sua tenda, bebia-se vinho de garrafão, em vez de cerveja, acompanhado de carne, muita carne, no braseiro e cheiro convidativo.
Exibindo uma bandeira do Paraguai estava Ruben, de 25 anos, que, com um amigo, viajou daquele país sul-americano para ver o Rali de Portugal, pela terceira vez.
“Gosto muito dos ralis, mas este é especial, aqui tem um montão de gente, é espetacular, é especial. Este salto é o melhor do mundo, posso dizer”, comentou.
Pouco tempo depois, a multidão agitou-se e as bandeiras de vários países também, com a onda mexicana.
Ouviram-se as gaitas, os despiques quase musicais de motosserras, os cânticos da multidão e os helicópteros, anunciando que os WRC estavam quase a chegar para a segunda passagem pelo salto.
A primeira, de manhã cedo, mal se vira devido ao nevoeiro, para a segunda, à hora de almoço, o sol já raiava, para os bólides voarem para as icónicas fotografias que correm o mundo.