A fadista Gisela João celebra os 50 anos do 25 de Abril com uma digressão, interpretando músicas dos autores e compositores de Abril, como José Afonso, de quem vai cantar “Grândola, Vila Morena”.
O seu objetivo é fazer “um concerto de homenagem ao 25 de Abril durante o ano inteiro”, confessou à agência Lusa.
A digressão abre em Amarante, no dia 24 de abril, no cine-teatro local, e prossegue no dia seguinte, no Teatro Tivoli, em Lisboa, no âmbito do Festival Sons da Liberdade.
Gisela João é acompanhada pelos músicos Carles Rodenas Martinez, em guitarra clássica, e Luís ‘Twins’ Pereira, em teclas.
A fadista disse à Lusa que sempre celebrou com entusiasmo o 25 de Abril, ao qual se refere “carinhosamente pelo 25”.
“Eu, ao 25 de Abril, costumo chamar-lhe carinhosamente ‘25’, porque para mim, o 25 [de Abril] é o dia mais bonito de Portugal, devia ser o dia de Portugal, da nossa liberdade, liberdade de expressão, liberdade de sonhar, liberdade física. Liberdade!”, argumentou.
“Sempre fiz questão de cantar no 25 de Abril. De 24 para 25 [de Abril] fico sempre muito expectante, como se o dia 25 fosse um passeio da escola, como quando éramos miúdos”, disse.
A ideia destes concertos surgiu no ano passado “numa conversa com amigos”, quando se apercebeu de que este ano se celebrava o Cinquentenário da Revolução dos Cravos e se questionou sobre o que pretendia fazer.
Gisela João decidiu que queria “fazer um concerto de homenagem ao 25 de Abril durante o ano inteiro”, e assim “começou a crescer a ideia do projeto”.
No ano passado, durante um período em que esteve a viver em Valência, no sul de Espanha, conheceu um músico a quem foi mostrando “músicas dos nossos cantautores de antes do 25, e músicas da Revolução”.
“O facto de lhe estar a contar a história por via da música, ajudou-me a fechar a ideia do concerto que eu queria fazer”, contou à Lusa.
Referindo que “ainda está a fazer alguma investigação”, Gisela João disse que já escolheu “alguns dos cantautores mais conhecidos” para todos cantarem consigo, mas também outros que “saíram um pouco do radar”.
Entre os já escolhidos estão José Afonso, José Mário Branco, Fausto, Vitorino e Sérgio Godinho, “nomes que não podem faltar”.
O fado “Abandono” (David Mourão-Ferreira/Alain Oulman), também conhecido como “Fado Peniche”, numa referência à antiga prisão da PIDE, “talvez” possa constar do alinhamento, “mas há tantas músicas e tão boas”, disse, referindo que não lhe dá “tanto gozo estar a cantar sempre as mesmas”.
O “Fado Peniche”, uma criação de Amália Rodrigues, é apontado por alguns críticos de música como a primeira canção de protesto antes do 25 de Abril de 1974, e que escapou ao crivo dos Serviços de Censura, pelo qual todo o material publicável tinha de passar.
“Grândola, Vila Morena”, “Cantiga de Embalar” e “Redondo Vocábulo”, criações de José Afonso, “certamente” vai cantar, disse à Lusa.
Depois de Amarante e Lisboa, “muitos espetáculos vão acontecer”, disse Gisela João que assegurou que “este é o espetáculo que quer fazer” este ano, não tendo adiantado outras datas.
A cenografia do espetáculo é também autoria de Gisela João.
Gisela João deu-se a conhecer ao grande público em 2013 com a edição do álbum homónimo. Anteriormente tinha participado noutros projetos musicais, nomeadamente no álbum “O Fado E As Canções do Alvim” (2011), e participou como fadista no filme “O Grande Kilapy” (2012), de Zezé Gamboa.
Em 2015 fez parte do elenco do álbum “Amália: As Vozes do Fado”. Em 2016 saiu o seu segundo álbum, “Nua”.