Cerveja Letra celebra 10 anos. Começou numa garagem e hoje produz 25 mil litros por mês em Vila Verde

Filipe Macieira e Francisco Pereira. Foto: Thiago Correia / O MINHO

A partir do sonho de dois amigos e então estudantes de Engenharia Biológica da Universidade do Minho, nasceu, há 10 anos, – que são completados este sábado – a Letra. Uma cerveja criada com o objetivo de fortalecer a cultura cervejeira em Portugal, e, uma década depois produz 25 mil litros, emprega cerca de 40 pessoas e prevê faturar dois milhões de euros em 2023.

“A imagem mais forte e que caracteriza o nosso projeto, e que é diferenciador, é termos construído isto do zero. A cerveja Letra é um dos primeiros projetos deste tipo”, explica Francisco Pereira, um dos fundadores e sócios da Letra, a O MINHO.

O mais tradicional neste tipo de negócio é começar como um ‘hobby’, uma produção caseira, e eventualmente evoluir para uma empresa. No caso da Letra foi o contrário. E, para eles, este é um dos segredos do crescimento sustentável.

Três anos de preparação

A cerveja foi fundada em 2013, mas o plano de negócios começou a ser desenvolvido em 2010. As ideias começaram a surgir e Francisco, ao lado de Filipe Macieira, viajaram pela Europa, buscaram conhecer de perto o conceito em países com forte cultura cervejeira.

“A imagem é que este projeto há de deixar sempre na minha memória é de não existir absolutamente nada, nem instalações, nem mercado, nem clientes, e tivemos que desenvolver todo o projeto. Isto é algo que ainda marca muito a empresa, claro que cresceu e há outras áreas de negócio, mas no fundo, o lançamento das cervejas artesanais em Portugal cruza-se com o lançamento da Letra”, diz Francisco.

Filipe Macieira e Francisco Pereira. Foto: Thiago Correia / O MINHO
Francisco Pereira e Filipe Macieira. Foto: Thiago Correia / O MINHO
Filipe Macieira e Francisco Pereira. Foto: Thiago Correia / O MINHO
Francisco Pereira e Filipe Macieira. Foto: Thiago Correia / O MINHO

Duas questões que os fundadores tiveram que ter em conta no início: a falta de cultura cervejeira e a enorme tradição do vinho em Portugal.

Francisco aponta que existem duas marcas fortes, Super Bock e Sagres, que lançavam aquele estilo de cerveja, mas sem uma preocupação em explorar a cultura da bebida, a sua versatilidade e até harmonização com comidas.

O fundador lembra que a Letra surgiu numa primeira vaga de cervejas artesanais, ao lado de outras como Sovina ou Maldita, e que davam muita importância a tudo isto.

“Até por termos espaço de restauração, queremos mostrar a versatilidade e o poder que a cerveja tem para consumir em diferentes momentos, não apenas quando apetece se refrescar”, disse.

“Este é um património que estes projetos empreendedores, ali a partir de 2010, 2013, começaram a mostrar, mostrando estilos e diferenciação de cervejas, que depois também as grandes marcas aproveitaram o comboio e acabaram por ajudar a diferenciar o mercado”.

Em relação à tradição do vinho, Francisco lembra que o português já está habituado a ir a um restaurante e ter dezenas de opções diferentes: “É uma distância enorme, o vinho tem um impacto muito grande. Para cerveja, em 2010, não existia. Ainda é um caminho muito longo a percorrer”.

Viagem em busca da cultura cervejeira

Ao recordar os 10 anos, Francisco lembra com carinho especial os primeiros e até antes do lançamento, quando, ao lado de Filipe Macieira, chegou a dormir por dias numa ‘van’ na Bélgica, a comer sandes de queijo e fiambre, mas a investir em conhecer e experimentar as mais diversas cervejas locais.

A viagem também foi importante para conhecer equipamentos de perto. Nestes primeiros anos, a dupla criou uma unidade piloto na garagem dos pais do Filipe, estavam a fazer investigação na UMinho, e aproveitavam para fazer as provas, com cervejas de trigo, por exemplo, e viram que as pessoas percebiam aquilo como um produto diferente, gostavam e queriam experimentar novidades, e o plano de negócios já ia sendo elaborado.

Com o projeto a ganhar solidez, os engenheiros, que já estavam habituados ao laboratório de fermentações, prepararam a estrutura, então inexistente em Portugal.

Produção da cerveja. Foto: Divulgação / Letra
Produção da cerveja. Foto: Divulgação / Letra

“Nós desenhamos esta fábrica, tal e qual como está, já expandiu para cima, para o lado, para o outro edifício, mas esta unidade é original, nós é que a desenhamos para conseguir um preço mais baixo com um fornecedor espanhol. Ele usou o nosso conhecimento, que ele não tinha para fazer o layout e criámos uma parceria, que depois ele replicou e já vendeu para outros países”, explica Francisco.

“Agora já é uma unidade cada vez mais autónoma e tem capacidade para quase 40 mil litros por mês”.

Crescimento e Letrarias

Os primeiros lotes foram apenas para festivais, eventos de gastronomia que aceitavam algumas cervejas artesanais, as festas locais de Vila Verde. Houve também o apoio da Taberna Belga, que possibilitou colocar o produto, que ainda era um teste, e ajudou a dar a provar e ter ali uma prova de conceito importante, além de compradores importantes em Lisboa e no Porto.

Com o crescimento inicial, o passo seguinte seria criar um espaço próprio. E vieram as Letrarias, que já estavam no plano de negócios lá no início.

Em 2015, foi inaugurado o primeiro restaurante, junto à fábrica em Vila Verde, com um menu pensado também na harmonização com a cerveja.

“Eu tenho ligado na minha família o sentido da restauração e da gastronomia, também por isso em 2015 quisemos avançar para um conceito completo. Arrisco a dizer que a Letraria, em Portugal, ainda é a cervejaria, com uma marca de cerveja artesanal, mais completa no sentido de gastronomia. Existem muitos bares de cerveja com coisas para petiscar. Aqui temos uma carta de partilha, para petiscos, mas uma carta para jantar, uma experiência completa”, diz Francisco.

Foto: Divulgação / Letra
Foto: Divulgação / Letra
Foto: Divulgação / Letra
Foto: Divulgação / Letra
Foto: Divulgação / Letra
Foto: Divulgação / Letra

Em 2017, foi a vez de ir para o Porto e, dois anos depois, Braga: “Apesar de estarmos em Vila Verde, o projeto nasceu claramente em Braga, muito ligada à Universidade do Minho, era importante estarmos no centro histórico, junto à Sé”.

Em 2021, foi a vez de Ponte de Lima, e há três meses em Viana do Castelo, estas duas com parceiros locais, num conceito que poderá ser replicado em outras cidades. Os números provam a importância das Letrarias, segundo explica Francisco:

“Estes cinco espaços representam praticamente 50% do negócio da empresa e tem um impacto do ponto de vista de chegar ao consumidor final muito importante. Nós conseguimos explicar as nossas cervejas diretamente ao consumidor final”.

Desafios na pandemia

Neste tempo, como todos os empresários, a Letra também sofreu com a pandemia. Na altura, a Letra contava com uma estrutura de 20 pessoas e tiveram que mandar toda a gente embora. Ficaram os dois a fazer tudo.

“Tivemos que reestruturar o negócio todo. Conseguimos manter com a mesma saúde financeira, alterar canais de venda, eu e o Filipe ficamos sozinhos, fizemos numa rapidez enorme, foi um desafio brutal e permitiu que a empresa hoje possa olhar para o futuro de uma forma tranquila e continuar a crescer”.

Entre os próximos passos estão a criar uma Letraria em Lisboa. Francisco adianta que já foi identificado um parceiro, que agora estão a identificar o melhor local, e a expetativa é de abrir no próximo ano.

“Toda a estratégia de crescimento para os próximos 10 anos é crescer, mas com o ADN cada vez mais de sustentabilidade e localidade da marca, que é de Vila Verde, sempre se afirmou como marca de Vila Verde e minhota”.

Festivais e internacionalização

A Letra também pretende fortalecer a internacionalização. Atualmente já exporta para países como França, Suíça, Finlândia, Dinamarca, além de participar em diversos festivais, como um na Lituânia, que decorreu mesmo na semana passada.

Além dos festivais internacionais, os eventos produzidos pela própria Letra já estão a ganhar reputação no Norte, nomeadamente o Hopen, em Braga, e o Harvest, em Vila Verde.

Letra Harvest Fest. Foto: Divulgação / Letra

“Acreditamos que o Harvest é um diferenciador a nível nacional. Acho que, quem vem cá, percebe que o projeto foi construído a pulso, que há muita paixão e dedicação para o projeto continuar a crescer”.

Comemorações

Para comemorar a primeira década de vida da marca, os dois sócios decidiram criar uma rota de 10 ações especiais que, ao longo da primeira quinzena de outubro, aconteceu de Sul a Norte do país, e termina justamente em Vila Verde.

 
 
 
 
 
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A chegada desta “beer trip” acompanha também o lançamento de um documentário sobre os 10 anos, lançado esta sexta-feira.

Para sábado, dia do aniversário, está programado um almoço harmonizado, apresentação do kit de cervejas especial dos 10 anos, um quiz, e música para fechar a noite.

 
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