Luís Montenegro completa na segunda-feira um ano como presidente do PSD, uma liderança sem contestação organizada, marcada por cenários inesperados de crise política e pelas dúvidas sobre o Chega, com o primeiro ‘teste’ decisivo nas europeias de 2024.
Montenegro foi eleito líder do PSD em 28 de maio, poucos meses depois de o PS ter conquistado maioria absoluta nas legislativas com mandato até 2026, derrotando Jorge Moreira da Silva (72,5% contra 27,5%) em eleições diretas, meta que falhara dois anos antes, contra o então presidente Rui Rio.
O antigo líder parlamentar do PSD só viria a assumir funções plenas como presidente a 03 de julho, num congresso em que afastou por toda a legislatura um referendo à regionalização e defendeu um programa de emergência social, cujas linhas gerais viria a apresentar em agosto, numa tentativa de antecipação em relação ao Governo, que se repetiu no Orçamento do Estado para 2023 e nas propostas sobre habitação.
No final de setembro, PSD e Governo chegaram a um entendimento quanto à metodologia para a escolha da localização do futuro aeroporto de Lisboa, ainda que Montenegro não se tenha comprometido com a solução final que venha a resultar das várias comissões criadas, defendendo que “quem tem de governar é o Governo”.
Este foi o único sinal público de acordos do PSD com o executivo socialista, que Montenegro tem criticado com palavras duras: “desnorte”, “desorientação”, “falhanço”, que se acentuaram a partir do início do ano com as sucessivas revelações sobre a gestão da TAP e, mais recentemente, quebrando até o tradicional consenso entre os dois maiores partidos sobre os serviços de informações.
No entanto, mesmo durante o período de crise institucional mais crítico entre São Bento e Belém e em que a palavra dissolução entrou no discurso político – incluindo do Presidente da República -, nunca o líder do PSD pediu eleições antecipadas, recusando até votar a favor de uma moção de censura da Iniciativa Liberal, embora assegurando estar pronto para as disputar a qualquer momento.
Em abril, Montenegro verbalizou até algumas divergências públicas com o Presidente da República, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter considerado ainda não existir “uma alternativa sólida” ao Governo.
No último Conselho Nacional, fez um balanço deste primeiro ano e concluiu que o PSD está no “bom caminho”, contrariando os que dizem que seria natural que o partido já tivesse disparado nas sondagens, em que tem aparecido taco a taco com o PS na casa dos 30%: “Natural será ganhar as próximas eleições legislativas e com maioria absoluta”, contrapôs.
Antes destas, o líder do PSD terá eleições na Madeira, depois do verão, mas, sobretudo, europeias marcadas para 09 de junho do próximo ano, que diz querer ganhar, mas afastando que uma derrota possa ditar a sua saída – as próximas diretas deverão realizar-se depois do sufrágio europeu.
“O PSD perdeu as últimas eleições europeias por 12 pontos percentuais, se o PSD ficar a dois ou três pontos acha que é um mau resultado? Eu não acho, mas não é esse o resultado que quero”, afirmou, em entrevista à RTP.
Ao longo do primeiro ano de mandato, Montenegro foi sendo questionado sobre a relação com o Chega e eventuais entendimentos eleitorais, adiando uma resposta clara para uma futura campanha.
No máximo, afirmou que não fará Governo nem aceitará apoio político de partidos “racistas, nem xenófobos, nem oportunistas, nem populistas”, embora recusando posteriormente clarificar se era ao Chega que se dirigia.
No início de maio, Montenegro almoçou com o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, com ambos a manifestarem-se disponíveis para construir uma “alternativa política”, embora sem coligações pré-eleitorais.
Na frente interna, têm sido poucas as divergências com Montenegro assumidas publicamente, embora haja vozes – sobretudo no grupo parlamentar herdado de Rui Rio – que manifestam dúvidas sobre a estratégia seguida para chegar a primeiro-ministro.