Cardiologista do Hospital de Guimarães recusa medalha da Câmara após suspeitas da PJ

Foto: DR

O diretor do serviço de cardiologia do Hospital da Senhora da Oliveira, em Guimarães (HSOG), António Lourenço, declinou receber a medalha de mérito atribuída pelo município, após buscas da Polícia Judiciária (PJ), revelou hoje o presidente da câmara.

Na terça-feira, a PJ realizou buscas no HSOG, em 11 empresas ligadas ao setor da saúde e em instituições, como a Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia do HSOG, por suspeitas de administração danosa, de corrupção, de participação económica em negócio e de abuso de poder, crimes cometidos, alegadamente, durante a criação do Serviço de Hemodinâmica, envolvendo contratos suspeitos de 21 milhões de euros.

Na reunião de câmara, Domingos Bragança (PS) disse ter recebido um pedido do diretor do serviço de cardiologia do HSOG a declinar a distinção que iria receber na sessão solene para assinalar o 24 de junho de 1128, agendada para sábado, acrescentando que a decisão “partiu da vontade do distinto médico, em face da investigação em curso do Ministério Público (MP), de que a Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia é alvo”.

“Face aos acontecimentos públicos do dia de hoje [terça-feira], não me sinto confortável a receber enorme distinção da cidade de Guimarães, num clima de suspeição que infelizmente também envolve a Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia, da qual sou presidente por inerência de cargo (diretor do serviço de cardiologia), declinando nesta altura a honra desta distinção”, refere a missiva enviada ao autarca de Guimarães, no dia das buscas da PJ.

António Lourenço assume que “é com enorme constrangimento e tristeza” que tomou a decisão, sublinhando que o dia em que iria receber a distinção seria “seguramente um dos mais felizes” da sua vida, ao ser reconhecido pela cidade que lhe deu “ser”, com a atribuição de uma medalha de mérito nas celebrações do ‘Dia UM de Portugal’, “pelo seu trajeto de vida na cidade de Guimarães”.

Perante o pedido, Domingos Bragança retirou a proposta, afirmando o desejo de poder levá-la brevemente a reunião de câmara.

A investigação do MP e as buscas no âmbito da operação denominada de “Salus”, segundo a PJ, incidem sobre contratos celebrados pelo HSOG, entre 2015 e 2018, “visando a instalação de uma Unidade de Diagnóstico e Intervenção Cardiológica (UDIC – Serviço de Hemodinâmica), sem a prévia e necessária autorização do Ministério da Saúde”.

“A investigação tem por objeto, ademais, suspeitas de que a instalação da UDIC, ao contrário do que foi veiculado publicamente, não tenha sido financiada por donativos da sociedade civil, mas sim por sociedades comerciais com interesses na área da saúde, as quais vieram posteriormente a celebrar contratos com a Unidade Hospitalar, no valor de aproximadamente 21 milhões de euros, em condições bastante desfavoráveis para o erário público”, explicou a PJ, em comunicado divulgado na terça-feira.

Em 29 de março deste ano, o HSOG anunciou a entrada em funcionamento do Serviço de Hemodinâmica, concluído desde 2018, sublinhando que o mesmo iria permitir a realização, por exemplo, de cateterismos cardíacos.

Concluído em 2018, o Laboratório de Hemodinâmica custou cerca de dois milhões de euros, alegadamente angariados pela Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia do Hospital Senhora da Oliveira, e a justificação inicial da Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) para impedir a abertura do serviço foi a de que Guimarães estava de fora da rede de referenciação para os serviços de hemodinâmica do país.

 
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