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Um novo espaço de estacionamento, completamente pavimentado, novos jardins, passeios e um parque de merendas com mais de uma dúzia de mesas em pedra oferecidas pelos habitantes locais. São estes os condimentos que o Santuário da Senhora da Paz, no lugar de Barral, freguesia de São João Vila Chã, em Ponte da Barca, tem para oferecer aos peregrinos, em troca de uma visita àquele espaço onde os relatos antigos dão conta de uma aparição de Nossa Senhora, ao jovem pastor Severino Alves, ainda antes das mediáticas aparições em Fátima.
Senhora do Barral
As festas da Senhora do Barral, como é conhecida, essas, estão marcadas para o último fim de semana de maio, embora as aparições ao pastor tenham sido associadas aos dias 10 e 11. Contudo, e tendo em conta a grande força que Fátima possui no coletivo religioso nacional, a coincidência das datas impede que a confraria assinale com uma festa o ‘milagre’ do pastor barquense nos dias em que terá ocorrido.
Severino pediu a todos que rezassem
Entre os dias 10 e 11 de maio de 1917, o jovem pastor Severino Alves, residente naquela freguesia, avistou um relâmpago quando se encontrava a pastorear as cabras naquele monte, como deu conta Luíz Arezes, historiador que escreveu o livro “Centenário das Aparições no Barral”, editado em 2017. Terá então ouvido uma voz a pedir para que não se assustasse. À semelhança de Fátima, a Senhora pediu a Severino para “rezar” e contar a todos a “boa nova” de que o lugar era sagrado.
E assim fez o jovem pastor, recolhendo incredulidade de uns e devoção de outros. O caso depressa chegou à arquidiocese de Braga, mas o arcebispo de então achou por bem não se fazer nada e esperar para que o milagre fosse comprovado. A história acabou por cair no esquecimento geral e apenas os habitantes daquele pequeno lugar iam colocando “umas velinhas” para recordar o fenómeno, como explicou a O MINHO o responsável da confraria.
50 anos para construir santuário
Existem várias teorias para explicar o motivo de estas aparições nunca terem ganhado repercussão mediática, como noutros casos, mas a mais aceite prende-se pela construção tardia de uma capela ou imagem que assinalasse as mesmas. É que, pese embora o milagre do Barral tenha ocorrido em 1917, em plena Grande Guerra, o santuário só foi construído cerca de 50 anos depois, em 1967, quando foi colocada uma imagem da Senhora da Paz. Em 1969, foi inaugurada uma capela (a capelinha, como lhe chamam os locais), e só na década de 70 é que foi construída a cripta subterrânea que assinala o local exato da aparição.
População dececionada com o apoio da Igreja
Passados mais de 100 anos das aparições, ainda hoje a população do Barral se sente um pouco ‘rescaldada’ pela Igreja Católica, a quem aponta o dedo por não ter feito mais pela divulgação do espaço ao longo do último século.
Maior entusiasmo na esmola
Outra das pretensões de José Sousa é um “maior entusiasmo dos peregrinos em deixarem a sua esmola, para depois verem que o dinheiro que investem resulta em qualquer coisa”. Refere-se às novas obras, que foram também comparticipadas pela Câmara de Ponte da Barca, e a outras que possam surgir nos próximos anos, de forma a melhorar o santuário. “É preciso ver que, de todos os santuários ao redor, e muitos deles até são bem conhecidos, o nosso está a investir, ou seja, as esmolas mostram o retorno”, sentenciou.
O programa para este ano tem diferentes etapas, todas ‘queimadas’ durante maio, assim como as velas que os peregrinos depositam na cripta e na capela, para pagar as suas promessa. A 11 de maio – esta quarta-feira – data em que se assinalam 106 anos sobre as aparições, será realizada uma eucaristia na Igreja do Coração de Maria, uma imponente construção em local acidentado, ao lado de outra imponente imagem de Nossa Senhora, erguida sobre uma pedra de quartzo, mineral que era extraído daqueles montes em tempos idos e que deu mote para a construção de um museu em pleno santuário. Nos dias 28 e 29 completa-se a festa, com procissão de velas no sábado à noite e uma missa na “capelinha”, às 11:00 horas de domingo. O momento alto da festa ocorre de tarde, junto à igreja – uma missa campal.
José Sousa apela à visita, afirmando que estão reunidas muitas condições e muito para se ver, desde o santuário, a igreja (que fica afastada alguns 500 metros) e, claro, o museu do quartzo e a cripta, onde está situada a maior pedra de quartzo em estado puro no país, servindo como altar para as celebrações religiosas. “Podem também visitar a aldeia, que é tipicamente minhota, com casas em pedra e muito para ver”, termina, em jeito de convite.
Milagre ganhou força em Fátima
O ‘milagre’ de Barral só ganhou força aquando do cinquentenário das aparições de Fátima, quando o cónego Avelino Costa, natural da freguesia, foi convidado pelo santuário de Fátima para fazer uma conferência e disseram-lhe lá que havia uma noticia num jornal da época que dava conta da aparição se ter realizado primeiro em Ponte da Barca.
E só aí se iniciou todo o processo para tornar o lugar de Barral numa nova rota mariana. Durante os anos 70 e 80 houve uma grande afluência, mas com o virar do milénio, começou a decrescer, depois da morte do cónego.
A partir de 2000, e após nova insistência das gentes locais, o santuário voltou a ser divulgado, e começaram a lá acorrer milhares de peregrinos todos os anos, número que vinha em crescendo até 2019, estagnando depois com a pandemia.
O santuário da Senhora da Paz conta hoje com uma capela, uma igreja, um museu, espaço de merendas e várias imagens que recordam Nossa Senhora, o pastor Severino e o cónego Avelino.