O antigo reitor do Santuário de Fátima Luciano Guerra alertou hoje para a necessidade de “um enorme esforço de purificação do Santuário, no sentido de o fazer voltar-se para o público de peregrinos”.
Monsenhor Luciano Guerra, que foi reitor durante 35 anos, tendo deixado o cargo em 2008, considera, em entrevista ao semanário Jornal de Leiria, que, depois de nos seus mandatos a “prioridade” ter sido “os peregrinos em geral, os quais podem considerar-se pobres, a classificação humana que mais convém aos filhos de Deus”, hoje a situação é diferente.
“No atual programa do Santuário, o fito primário mais explícito são os intelectuais” e “a dedicação total à intelectualidade não deixa espaço para a dedicação aos pobres”, afirma.
Na entrevista, em que assume um tom muito crítico para com a atual gestão do maior templo mariano do país, Luciano Guerra reforça que “prevalece a intelectualidade e a arte. Em plano secundário fica a grande massa de peregrinos, gente simples pobre e humilde, a gente que, na realidade, Nossa Senhora convida para vir a Fátima”.
“Fez-se uma esplendorosa celebração do centenário [das aparições, em 2017]. Houve muita música e outras manifestações artísticas. Fazem-se ainda hoje exposições maravilhosas, mas que a meu ver ficam demasiado caras e, até por isso, de resultado pastoral menos evidente. O peregrino que vem a Fátima não precisa senão de um ambiente de oração”, acrescenta.
Outra crítica deixada pelo sacerdote refere-se aos alegados elevados salários pagos no Santuário, com Luciano Guerra a afirmar que “um padre é um padre. Não pode, de maneira nenhuma, comparar-se a um administrador de uma empresa, mesmo que os leigos que o sacerdote dirige recebam salário superior”.
O ex-reitor deixa, ainda, o lamento pela forma como foram admitidos ou dispensados alguns funcionários no Santuário nos últimos anos.
“Houve trabalhadores que praticamente foram expulsos, a vários outros (…) teve a instituição de pagar altas indemnizações; outros saíram e calaram-se, com receio de retaliações. Quase de rompante, foram admitidos mais de 130 novos funcionários, numa casa que tinha 210. Houve uma série de pessoas que foram empurradas para sair”, refere o antigo responsável pelo Santuário.
Monsenhor Luciano Guerra, de 90 anos, desempenhou as funções de reitor do Santuário de Fátima entre 1973 e 2008.
A agência Lusa pediu já ao Santuário de Fátima uma reação a estas acusações hoje lançadas por Luciano Guerra.