O presidente do PSD, Luís Montenegro, acusou na terça-feira à noite o primeiro-ministro, António Costa, de querer que “os portugueses se habituem à pobreza”, avisando que os socialistas terão que habituar-se a uma oposição “exigente”.
“O primeiro-ministro de Portugal quer que os portugueses se habituem à pobreza, mas nós não nos vamos habituar a isso”, afirmou o líder dos sociais-democratas, que discursava na tomada de posse da Distrital do PSD de Beja, liderada por Gonçalo Valente.
Nesta sessão, que terminou praticamente já esta madrugada, Luís Montenegro aludiu à entrevista de António Costa publicada, na semana passada, na revista Visão, na qual o primeiro-ministro deixou o aviso aos partidos para que se habituem à maioria absoluta do Partido Socialista (PS).
No discurso, o líder do PSD falou dos números da pobreza em Portugal, afiançando que “metade da população ou está já no risco de pobreza ou só não está porque o Estado lhes dá uma prestação que as impede de estar nesse limiar estatístico”.
“Porque é [um limiar] só estatístico, porque no dia-a-dia elas são pobres na mesma”, argumentou.
E, quando o PSD, enquanto oposição, confronta o Governo sobre este “empobrecimento” do país, “o que é que o primeiro-ministro tem a dizer ao país? Habituem-se. É isto que ele tem a dizer ao país, habituem-se”, ironizou Luís Montenegro.
“Pelo contrário, ele é que vai ter que se habituar a ter uma oposição exigente, firme, vigilante, escrutinadora, fiscalizadora” e capaz de “lhe dizer, olhos nos olhos”, que é o primeiro-ministro que “está a empobrecer Portugal”, contrapôs.
E “não nos venham dizer que isto é fruto da pandemia e da guerra na Ucrânia, porque também houve pandemia no resto dos países da Europa e há efeitos da guerra em todos os países na Europa, aliás, há vários países que têm efeitos bem piores da guerra do que nós temos em Portugal”, mas têm crescimento económico, argumentou.
“E a verdade é que todos os países de leste, todos os países que, por serem da coesão, têm um intervalo a percorrer para chegar aos países mais desenvolvidos da Europa, estão a crescer mais do que nós” do ponto de vista económico, realçou igualmente o presidente do PSD.
Ainda com baterias apontadas ao primeiro-ministro, Montenegro acusou-o de criar o seu próprio caso com a entrevista à Visão: “Ele próprio parece que ficou ciumento dos ministros. Parece que ficou ciumento dos ministros e dos secretários de Estado e também quis ter o caso dele”.
“Quis apoucar a oposição, quis dar aquele ar senhorial, enfim, quase que ditatorial, de que está acima de tudo e de todos. É o novo dono disto tudo”, acrescentou.
Tal como em ocasiões anteriores, o presidente dos sociais-democratas aludiu à prestação extraordinária de 240 euros aos mais desfavorecidos anunciada pelo Governo, lembrando que essa era uma ideia do PSD.
Mas, perante a medida dos socialistas, “quando a esmola é muita, o pobre desconfia”, porque “o Governo está a fazer isso este ano porque sabe que está a cobrar a todos, pessoas, famílias, empresas e instituições, este ano, mais de sete mil milhões de euros do que aquilo que cobreou o ano passado”.
“O Governo está a arrecadar mais do dobro do aumento da receita fiscal que tinha previsto para este ano e, portanto, está a usar uma habilidade, que é, já que os cofres estão cheios agora, vamos pagar agora que é para, no próximo ano, quando for difícil, dizer ‘mas eu já tinha dado lá atrás’”, argumentou.