A novela da TVI “Para Sempre”, gravada parcialmente no Minho, está a provocar celeuma por entre os habitantes de Castro Laboreiro, do concelho de Melgaço, tudo porque num dos episódios transmitidos esta semana é possível ver personagens, que interpretam habitantes de Soajo, em Arcos de Valdevez, a criticarem, com insultos, os habitantes castrejos.
Num dos diálogos que ocorre numa mercearia fictícia, localizada na vila de Soajo, entre um guarda da GNR e alguns soajenses, os habitantes de Castro Laboreiro são acusados de terem furtado uma viatura, isto por causa da raça de cães Castro Laboreiro, que as personagens soajenses da novela (e alguns habitantes na vida real) dizem tratar-se da raça Sabujo do Soajo, e que terá sido apropriada por aquela freguesia do concelho de Melgaço.
No diálogo, o GNR começa por dizer que está a investigar o furto de uma viatura. “Foram aqueles bandalhos de Castro Laboreiro, foi perseguição deles. Esses manhosos querem-nos roubar as festas, como roubaram os animais”, diz uma das personagens.
O GNR pergunta se “ocorreu furto de gado”, ao que uma mulher esclarece: “Não. São cãezinhos originais do Soajo, mas agora arranjaram uma raça igual e dizem que são deles. Em vez de se chamarem sabujos de Soajo, chamam Castro Laboreiro, e vendem para o estrangeiro”.
A passagem acaba por aí, mas os poucos segundos deste diálogo levaram à indignação de dezenas de pessoas nas redes sociais, insatisfeitas com esta ‘teoria’ de que os cães de Castro Laboreiro são originais de Soajo.
De acordo com o Clube Português de Canicultura, o Cão de Castro Laboreiro é uma das “raças mais antigas da Península Ibérica, deve o seu nome à vila de onde é originário”.
Sobre o seu comportamento e caráter, o clube aponta um “companheiro leal e dócil para a sua família, indispensável na protecção dos rebanhos contra o ataque dos lobos que, nas imediações da região de origem, ainda hoje são frequentes”.
É considerado “nobre de índole, muito ágil e ativo, pode mostrar alguma hostilidade sem, contudo, ser brigão. Tem um ladrar de alerta característico, que se inicia com um tom profundo, subindo em seguida em tons graves, para terminar em agudos prolongados”.
Por sua vez, na página de internet da Câmara de Arcos de Valdevez, é indicado que o Cão Sabujo da Serra de Soajo “é uma raça autóctone que aparece fortemente documentada desde a Idade Média, sendo um companheiro inseparável dos Monteiros nas atividades cinegéticas e de controlo deste território”.
“No Foral de Soajo de 1514, outorgado pelo rei D. Manuel I, surge uma importante nota documental ao cão, ao referir que os soajeiros ‘são obrigados de nos darem em cada um ano, nos tempos que lhos mandarmos requerer ou eles os quiserem mandar, cinco sabujos feitos de monte’”, lê-se ainda.
Considerado como de “temperamento territorial, afável e grande cariz protetor, fortemente adaptado às agruras da montanha e do clima, cedo assumiu um papel fundamental no quotidiano de Soajo, continuando a ser muito popular e acarinhado pelas gentes locais”.