Luís Gonzaga, de 47 anos, ex-jogador de futebol e empresário desportivo, esteve detido para interrogatório pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), na sequência de uma investigação que se prolonga há mais de um ano, enquanto suspeito de burlar jogadores de futebol estrangeiros, a quem ludibriava para experimentar em clubes, ou a quem cobrava dinheiro a troco de falsos contratos de trabalho.
Uma das peripécias investigadas pelo SEF é a burla a sete jogadores brasileiros que entraram em Portugal, com contratos falsos de trabalho para jogar no Ribeirão Futebol Clube em Famalicão, mas o presidente da instituição desportiva, Rui Oliveira, afirma a O MINHO: “Cada vez que tinha conhecimento de um contrato falso, reencaminhava a informação para o SEF, essa foi sempre a postura do Ribeirão, num cuidado especial para com os atletas dos quais muitos eram menores de idade”.
Nos contratos promovidos junto dos jogadores, o suposto empresário discriminava-se como representante do clube em questão. “São vários contratos de trabalho falsos em nome do clube, mais de uma dezena, ultimamente eram jogadores brasileiros”, afirma Rui Oliveira para acrescentar: “Falei com diversas pessoas, familiares de jogadores, dando-lhes conta de que os contratos não eram verdadeiros”.
“A direção do Ribeirão fez tudo o que estava ao seu alcance com o SEF e com o Ministério Público, para que este fosse o desfecho, pois há um ano que colaborávamos com o SEF”, adianta o presidente da instituição acrescentando, que o agente “recebia uma determinada verba por cada contrato, sem sequer pertencer à estrutura do clube”.
O esquema começou por ser preparado no Brasil, quando os sete jogadores de futebol foram sondados por um sujeito que apelidam de “Djalma”, aparentemente dono de uma empresa de transações desportivas, para irem jogar para Portugal. Djalma cobrava a cada jogador valores, que rondavam os 2 milhares de euros, para lhes intermediar uma proposta de emprego em Famalicão, no Ribeirão Futebol Clube.
Uma intermediação envolve pelo menos duas partes, por isso do outro lado do atlântico esperavam os jogadores encontrar-se com Gonzaga, “representante oficial do Ribeirão” em Portugal.
A família de cada um dos atletas pagou o valor solicitado pela dupla de agentes mais os bilhetes dos voos para Portugal. Os jogadores chegaram ao país munidos de contratos de trabalho, que apontavam salários na ordem dos 900 euros.
Um dos sete jogadores burlados, testemunha escutada pelos inspetores do SEF, afirma a O MINHO: “Só quero ver a justiça a ser feita”. “Nunca imaginei vir para Portugal e ser enganado dessa forma”, acrescenta.
À chegada a Portugal dos sete jogadores profissionais de futebol, um ficou imediatamente barrado no aeroporto pelo SEF, porque o contrato de trabalho não era compatível com o ordenamento jurídico português e consequentemente o seu visto de entrada no país era duvidoso.
Os seis rapazes transpuseram o aeroporto sem o colega, dirigiram-se para Braga e contactaram Gonzaga, que os enrolou. Na tentativa desesperada de compreenderem qual a situação, que os havia envolvido, telefonaram a toda a gente, mas não conseguiram obter esclarecimentos plausíveis de ninguém: o agente descartou-se, o clube não os conhecia, o intermediário não atendia o telemóvel e a empresa de transações desportivas no Brasil transformara-se num escritório de contabilidade, sem que alguém fosse o responsável pela devolução do dinheiro.
Em Braga, o homem associado ao mundo do futebol treinava regularmente “promessas” de estrelato nos campos da rodovia, se porventura alguém se destacasse, então seria “pay day” para o agente, que lhe procuraria um clube e lhe arranjaria um contrato, caso contrário o bem-estar dos jogadores era desprezado, sendo que alguns eram nacionais, mas outros eram estrangeiros “importados” para o efeito.
Dos seis jogadores brasileiros, três esperaram durante 15 dias enquanto pagavam a sua hospedagem em Braga, sem que fossem apresentados aos órgãos oficiais do clube, decidiram resignar-se e regressar ao Brasil, para tentarem recuperar o dinheiro mediante a interposição de uma queixa às autoridades competentes.
Os dois jogadores que ainda permanecem em Portugal são testemunhas do processo, mas desistiram do mundo do futebol para se dedicarem ao trabalho fabril. O único jogador dotado de dupla nacionalidade luso-brasileira saiu de Portugal e encontrou clube em Itália.
Este não será o único esquema na mira do SEF e do Ministério Público, que conduziram o agente do mundo do futebol, ao Tribunal de Instrução Criminal de Guimarães para lhe serem aplicadas medidas de coação, como as apresentações periódicas semanais em posto policial, a proibição de saída de território nacional, com entrega de passaporte ao tribunal e a proibição de contactos com outros suspeitos. O tribunal fixou ainda a entrega de 5.000 euros, a título de caução.
Em causa poderão estar crimes de auxílio à imigração ilegal, burla qualificada, tráfico de seres humanos e formação de quadrilha, visto que os jogadores eram encaminhados para o agente, por intermediários localizados nos países de origem dos jogadores.