Os partidos com assento parlamentar candidatos às eleições legislativas pelo círculo do Porto concordam acerca do reduzido serviço prestado pela TAP no aeroporto Francisco Sá Carneiro, mas divergem na solução para manter rotas, apontando ainda à ferrovia.
“É essencial que uma TAP que sobrevive graças a uma injeção tão significativa de dinheiro público sirva o conjunto do país”, disse o presidente da distrital do PS Manuel Pizarro, que, apesar de não ser candidato no sufrágio de 30 de janeiro, mas foi o indicado pela candidatura para falar à Lusa.
O antigo candidato à Câmara Municipal do Porto e atual eurodeputado observou também que “a TAP foi abandonando progressivamente o Aeroporto Francisco Sá Carneiro quando era uma empresa pública, e ainda mais quando se tornou uma empresa com gestão privada”, mas descartou que a relação da empresa com o aeroporto seja “um problema da natureza pública ou privada da companhia”.
Pelo PSD, a deputada e cabeça de lista pelo distrito do Porto, Sofia Matos, admitiu à Lusa que o posicionamento da TAP em relação ao aeroporto do Porto lhe causa “alguma revolta”, apontando ao Governo PS e à reversão da privatização feita pelo governo PSD/CDS-PP.
“Reverteram a privatização da TAP na convicção de que essa reversão é absolutamente estratégica, mas a verdade é que neste momento está um país inteiro a pagar a TAP, quando a TAP não serve o país inteiro”, resumiu.
A existência de uma TAP pública concorre para a necessidade do plano de reestruturação contemplar um “olhar para o Porto e para o aeroporto do Porto”, mas também para a rejeição da proposta do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, de subsidiar outras companhias para fazer rotas que a TAP não cubra: “Nós temos uma TAP pública, e portanto temos é que trabalhar e pressionar para que seja a TAP a fazer essas mesmas rotas”, considerou.
A deputada criticou ainda apoios a empresas como a ‘low cost’ Ryanair, “uma empresa que do ponto de vista laboral, por exemplo, tem muita dificuldade em cumprir a legislação portuguesa”, tendo “vários processos em tribunal, e até muitos deles ganhos pelos trabalhadores”.
Diana Ferreira, cabeça de lista da CDU (PCP-PEV) no distrito do Porto, apontou ainda a outro elemento, do seu ponto de vista, que influenciou a perda de importância do aeroporto do Porto: o facto da ANA – Aeroportos de Portugal ser atualmente uma empresa privada.
“O estabelecimento que a ANA Aeroportos faz em relação aos voos da TAP e à presença da TAP nos seus aeroportos não está desligada de uma empresa que é privada e que tem outros objetivos, nomeadamente da maximização de lucros, mas que não se coadunam com as necessidades de desenvolvimento do distrito e da região”, considerou.
Já Filipa Correia Pinto, primeira candidata do CDS/PP no distrito, referiu a importância de existirem rotas importantes para a economia do Norte, como ligações ao norte de Itália, zona de têxtil e calçado, ou “a Alemanha na metalomecânica”, defendendo “uma solução que aproxime o Porto de Lisboa e das capitais europeias, e dos centros económicos com os quais o Porto se relaciona”.
Quanto à proposta de Rui Moreira, a candidata do CDS-PP considerou-a “uma pista de reflexão e um bom ponto de partida”, mas reconheceu que o partido “tem sempre alguma alergia a ouvir falar de subsídios”, por defender a economia privada.
O PAN, segundo a deputada Bebiana Cunha, primeira candidata pelo Porto, “evidentemente que não” concorda com esta proposta, que deixa “de exigir da TAP aquilo que deve ser exigido, que é a coesão territorial”.
“Financiar as ‘low cost’ [companhias de baixo custo] vai, no fundo, intensificar e agravar aqueles que são os problemas que a cidade já vivia no período pré-pandemia”, como a “pressão” turística, que se repercute sobre as “questões da habitação”, apontou.
“Isso seria uma solução de recurso para resolver a questão”, refere à Lusa, por outro lado, Rui Afonso, primeiro candidato do Chega no Porto, considerando que “nunca poderá passar por uma solução estrutural”, mas sim “uma solução temporária até terminar o plano de reestruturação, ou até a TAP conseguir ter as condições necessárias para recolocar o ‘hub’ no Porto, por exemplo”.
Rui Afonso advertiu que, sem a TAP no Porto, “obviamente que isso vai ter repercussões quer para o próprio tecido empresarial quer ao nível do turismo”, com “impacto em termos da própria receita e do próprio nível de empregos”.
Já pela Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, ex-presidente do partido e cabeça de lista pelo Porto, considera que “o aeroporto do Porto não tem precisado da TAP para crescer, o turismo do Porto não tem precisado da TAP para crescer, o que só demonstra o quão inútil a TAP é”, e criticou a estratégia da companhia face à Galiza, região servida pelo aeroporto Sá Carneiro.
“Havia voos de alguns aeroportos da Galiza para Lisboa, para desviar um conjunto desses passageiros, precisamente, do aeroporto do Porto”, afirmou, dizendo que a companhia “não tem uma estratégia que envolva tornar o Aeroporto Francisco Sá Carneiro num ‘hub’ da Península Ibérica”, especialmente do noroeste peninsular.
Pelo Livre, o cabeça de lista Jorge Pinto elencou precisamente a necessidade de uma “ligação do TGV a Vigo”, bem como a passagem da linha de Leixões ao serviço de passageiros – “que seria uma espécie de circular, no Porto, da ferrovia” – com também ligação ao aeroporto.
“É essa articulação a nível ibérico entre a ferrovia e a aviação” que o partido defende, refere Jorge Pinto, numa lógica de “reduzir os voos quando eles podem ser reduzidos”, sendo “essencial que o Norte de Portugal, do Porto para cima, e toda a Galiza, possam estar articulados numa serie de coisas, nomeadamente no que diz respeito ao setor aéreo”.
Todos os restantes responsáveis ouvidos pela Lusa se mostraram favoráveis ao desenvolvimento ferroviário da região.