Camilo Mortágua encontrado em hotel de Castelo Branco

Pai das deputadas do Bloco de Esquerda
Foto: DR / Arquivo

Camilo Mortágua, pai das deputadas do Bloco de Esquerda, foi localizado, na manhã desta segunda-feira, num hotel em Castelo Branco, depois de ontem ter sido dado como desaparecido, avança o Jornal de Notícias.

“O meu pai está a caminho de casa e vai ficar bem”, escreveu Joana Mortágua no Twitter.

Como O MINHO noticiou, o alerta para o desaparecimento foi dado pela mulher, depois de perceber que o marido não tinha chegado ao destino e mantinha o telemóvel desligado.

Foram realizadas buscas entre Alvito e Fundão.

Camilo Mortágua foi um dos operacionais do assalto de 17 de maio de 1967 a um banco, na Figueira da Foz e, em 1961, no assalto ao paquete Santa Maria e ao desvio de um avião para espalhar panfletos sobre Lisboa e o Alentejo, o que o obrigou a viver na clandestinidade: primeiro no Brasil e depois em França.

É em Paris que em conjunto com outros revolucionários decide, já em 1967, vir para Portugal levar a cabo um assalto a um banco que lhes permitisse resolver “um problema intransponível”: falta de dinheiro para realizar novas ações que contribuíssem para o derrube do regime.

Camilo Mortágua, na altura com 34 anos, participou no assalto à sucursal do Banco de Portugal da Figueira da Foz juntamente com Hermínio da Palma Inácio (então com 46 anos), António Barracosa (25) e Luís Benvindo (25).

Mortágua disse, em 2017, já não se recordar muito bem tendo ainda assim referido que 80% do capital – mais de 29 mil contos, valor que equivaleria a cerca de dez milhões de euros hoje, segundo a Pordata – não podia ser utilizado, porque essas notas ainda não tinham entrado em circulação e puderam ser anuladas pelo Banco de Portugal. “Sobraram sete a oito mil contos [2,4 a 2,7 milhões de euros, segundo a conversão da Pordata]”.

Perpetrado o assalto, em pleno dia e sem violência, os quatro operacionais conseguem escapar de Portugal com o dinheiro e chegaram a Paris dois dias depois.

“E no dia 19 [de maio] estávamos em França quando, por volta das 11 da manhã, soubemos que quem tinha feito a operação era uma coisa chamada LUAR (Liga de Unidade e Ação Revolucionária)”, disse referindo-se à surpresa dos operacionais com a notícia da revindicação da autoria do assalto.

Um episódio que Mortágua não esqueceu e que continua a merecer a seu reparo: “Precisávamos de dinheiro para criar uma organização, não era ter uma organização para ir buscar o dinheiro, era ao contrário, e houve quem quisesse aproveitar a oportunidade de haver dinheiro e ainda não haver a organização para tomar conta dela”.

Contudo, a LUAR viria mesmo a ser criada um mês depois, a 19 de junho, sob a liderança de Palma Inácio e envolvendo outros oposicionistas a residir em Paris.

Alguns dos fundadores da organização envolveram-se em polémicas e em acusações de desvio de fundos que chegaram a tribunal nos anos 90, questões que Mortágua resumiu sem ser muito concreto: “Quer dizer, há sempre gente que é útil fazendo em favor de quem está manobrando para se aproveitar do sacrifício dos outros, umas vezes a história salva-os outras vezes a história condena-os”.

Insistindo que a missão do grupo que “fez a Figueira da Foz” era a de poder “ser uma espécie de agulha mortal, [dar] umas picadas no sistema”, Camilo Mortágua concluiu que “o grande golpe no regime é que nesta sociedade [a do Estado Novo] se chegue a admitir um ato destes e se pratique, que a revolta, que a motivação chegue a esse ponto e atinja esse patamar”.

 
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