Casal de Barcelos dorme na rua há dois dias após ter sido despejado

Não encontram casa com renda acessível
Foto: Pedro Luís Silva / O MINHO

Já há duas noites que um casal de Barcelos dorme na rua após ter sido despejado do sítio onde estava a viver. O homem é desempregado, a mulher tem incapacidade motora de 65% e não encontram nenhum apartamento com renda acessível. Hoje, voltarão a dormir à porta da loja comercial que habitaram nos últimos anos sem luz nem água. A Segurança Social afirma estar “a acompanhar e a avaliar” o caso.

ATUALIZAÇÃO: 

Casal de Barcelos que dormia na rua já tem casa graças a empresário benemérito

Paulino Vale e Felisbela Machado foram despejados da loja comercial onde viviam há cerca de três anos na passada segunda-feira. Deste então, têm dormido na rua, à porta daquele local, com os dois animais de estimação – um cão e um gato.

Há dois anos que ali habitavam sem água nem luz. “Houve uma maré em que não tínhamos dinheiro para pagar e o senhorio no dia a seguir mandou tirar o contador da água e depois a luz”, conta Paulino Vale a O MINHO.

Com Paulino Vale desempregado, é com os cerca de 700 euros de pensão de Felisbela Machado que o casal conta. E não encontram nenhum apartamento ou casa compatível com esse rendimento mensal. “Temos dinheiro para alugar uma casa, mas também temos que fazer contas à alimentação e às outras despesas”, realça a mulher.

“As rendas são muito altas”, reforça Paulino Vale. “Temos que dormir na rua”, acrescenta.

“O meu marido já me disse para ir para um quarto, mas na situação em que ele estiver eu também estou”, afirma, emocionada, Felisbela Machado.

Contactado por O MINHO, o senhorio, Manuel Brito, afirma que eles “já estavam notificados pelo tribunal desde outubro” e acrescenta que assinaram um documento em que garantiam sair de livre vontade. “E ainda fiz o favor de libertar uma garagem para meter as coisas deles”, realça.

Manuel Brito diz que “eles nunca pagaram renda”. “Cedi-lhes aquilo gratuitamente e ao fim de quatro, cinco meses deixaram de pagar água, foi quando a desliguei em maio de 2019”, acrescenta.

Paulino Vale garante a O MINHO que sempre pagaram a renda no valor de 220 euros e a “água e luz por fora”. E acrescenta: “Não assinámos nada, não fizemos acordo nenhum”.

Em resposta a questões colocadas por O MINHO, a Câmara de Barcelos diz que “não tem conhecimento desta situação” e acrescenta que “sempre que são reportadas situações do género são remetidas para a Segurança Social, entidade a quem compete estes casos”.

“Não aceitam ir para um espaço onde não possam levar os animais de estimação”

Questionada por O MINHO, a Segurança Social disse que “a situação do casal foi ontem sinalizada à Linha de Emergência Nacional – 144. Após a sinalização, o casal referiu ter condições económicas para ficar numa pensão. Foi-lhes proposto serem acolhidos, pelo menos por uma noite em Centro de Acolhimento, mas recusaram esta solução”.

Hoje a Segurança Social reuniu com o casal “para avaliação da situação concreta do agregado familiar”.

“Neste atendimento o casal apresentou como compromisso ou projeto encontrar uma alternativa habitacional junto do mercado de arrendamento privado, contudo, atendendo a que têm dois animais, não aceitam ir para um espaço onde não possam levá-los, pelo que decorrem ainda diligências para encontrar uma solução viável”, refere a Segurança Social.

Na resposta a O MINHO, a Segurança Social refere ainda que, “em outubro de 2019, o agregado já teria conhecimento da ação de despejo que estaria a decorrer e foi orientado pelos nossos serviços a fazer um pedido de atribuição de habitação social junto da Câmara Municipal de Barcelos e uma inscrição na plataforma do IHRU para atribuição de fogo social”.

“Dado tratar-se de um agregado familiar com rendimentos, foi também sensibilizado a procurar alternativa habitacional no mercado de arrendamento privado”, acrescenta.

Paulino Vale confirmou ter reunido no Grupo de Ação Social Cristã (GASC) onde lhe deram uma “lista de quartos e apartamentos” para contactar. “Mas é tudo muito caro ou não está disponível de momento”, afirma, referindo valores à volta dos 350 euros.

Assim, hoje o casal voltará a dormir na rua.

 
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