“Não vai ser uma brasileira que vai mandar nos destinos de um partido nacionalista”

Filipe Melo, candidato à Distrital de Braga do Chega

A distrital de Braga do Chega vai a eleições no próximo sábado. Em confronto estão duas candidaturas e o clima é de guerra. Há trocas de acusações, demissões e ameaças de queixa no Ministério Público. Um dos candidatos, Filipe Melo, acusando a presidente da Mesa da Assembleia Distrital de querer adiar as eleições, fez um post público na sua página pessoal de Facebook, ilustrado com a bandeira de Portugal, no qual escreveu: “Não vai ser uma BRASILEIRA que vai mandar nos destinos de um Partido nacionalista, patriótico. Nunca, não permitirei”. Pouco depois, Filipe Melo editava a publicação e trocava “BRASILEIRA” por “senhora”. A visada, Cibelli Pinheiro de Almeida, demitiu-se. Agora, é a Mesa da Convenção Nacional quem vai conduzir as eleições distritais.

No dia 1 de dezembro, às 21:25, Filipe Melo, que encabeça a candidatura Juntos Pelo Distrito, escrevia na sua página de Facebook que a Presidente da Mesa da Assembleia Distrital de Braga pretendia “adiar as eleições, marcadas para o dia 5 deste mês”.

Publicação original

“Usa e abusa de todos os argumentos, pois sabe que a derrota está iminente. Podem meter-me um processo disciplinar pelo que vou dizer, não me importo, pois, no meu íntimo está apenas a defesa dos superiores interesses do Partido CHEGA, de André Ventura, e dos Minhotos”, lê-se na publicação que, a seguir, diz que “não vai ser uma BRASILEIRA que vai mandar nos destinos de um Partido nacionalista, patriótico”.

Pouco mais de uma hora depois, pelas 22:34, como mostra o histórico de edições do Facebook, o candidato à Distrital de Braga do partido da nova direita radical populista alterava a expressão “BRASILEIRA” por “senhora”, mas mantinha o remate final do texto: “Se essa senhora não se preocupa com o futuro do Partido e do nosso Líder, vamos mostrar de que raça somos feitos”.

Publicação alterada

A manutenção das eleições no próximo sábado chegou a motivar a criação de uma petição pública dirigida a André Ventura e Luís Filipe Graça, presidente da Mesa da Convenção Nacional. “Estando marcadas eleições para o próximo dia 5 de dezembro, entre as 09:00 e as 13:00, é imperativo que as mesmas se realizem efetivamente nessa data”, lê-se no texto que denunciava a “existência de manobras dilatórias por parte de quem tem ainda a responsabilidade pelo órgão máximo da Distrital de Braga, comportamento esse que torna incomportável a continuidade em funções por quem age dessa forma”.

Mesa da Convenção Nacional assume realização da eleição distrital

Na quarta-feira, na página da Mesa da Assembleia Distrital de Braga, Cibelli Pinheiro de Almeida apresentava a sua demissão “por motivo reportado diretamente à Direção Nacional e à Mesa da Convenção Nacional”.

Em comunicado, a Mesa da Convenção Nacional confirmava o pedido de renúncia do cargo da presidente da Mesa da Distrital de Braga. E também anunciava o pedido para que a Mesa da Convenção Nacional substituísse a Mesa Distrital na organização e condução das eleições.

As eleições marcadas para o Centro da Juventude de Braga, na Rua de Santa Margarida, entre as 09:00 e as 13:00, passou, “por motivo imperioso de cumprimento com plano de saúde pública em vigor”, sublinha a Mesa da Convenção Nacional, para o Altice Forum e com horário prolongado até às 18:00. Uma alteração que vai ao encontro da vontade da lista de Filipe Melo, que, na resposta ao comentário de um apoiante, afirmava que tinha mostrado “desacordo” em relação ao horário, considerado curto para todos os militantes votarem.

Candidatura de Ruben Milhão não se vai apresentar sábado na eleição 

Entretanto, o Movimento Mobilizar Com Valores, encabeçado por Ruben Milhão, anunciou na página da sua candidatura que “decidiu não se apresentar na eleição agendada para dia 5 de dezembro de 2020”.

Ruben Milhão

Os motivos foram “devidamente comunicados à Mesa da Assembleia Distrital de Braga e à Direção Nacional” e a candidatura aguarda “desenvolvimentos”. Em resposta a um comentário de um seguidor que questionava os motivos, a candidatura foi lacónica: “A seu tempo os devidos esclarecimentos serão feitos”.

Ruben Milhão candidatou-se à liderança do Chega do distrito de Braga apresentando-se como “cristão, casado e pai de três filhos, profissional na Delta Café, sem passado político, entrou no Partido CHEGA o ano passado ao concorrer como o 3º da lista nas eleições em Braga para as legislativas”.

“Aceitou o desafio pela defesa da vida e dos valores da família, não apenas no partido, mas também na Associação Família Conservadora, na qual assumiu a Vice-Presidência da Mesa em apoio ao presidente da Mesa Manuel Matias, também Presidente do PPV”, acrescentava a nota de apresentação da candidatura.

Filipe Melo anuncia queixa no Ministério Público por “ataques” de “membros da lista concorrente”

A primeira comissão política distrital de Braga do Chega foi eleita no início de fevereiro, num jantar no Café Astória, em Braga. Luís Arezes, de Barcelos, assumiu a presidência. Em outubro deste ano, apresentou a demissão, bem como três elementos da Mesa da Assembleia. Desde então, o clima dentro da distrital é de guerra aberta, o que pode ser comprovado por publicações e comentários dos seus militantes nas redes sociais, onde o partido melhor se move.

A conflitualidade levou mesmo a lista de Filipe Melo, que é apoiado pelo anterior presidente da Distrital, Luís Arezes, a emitir um comunicado, onde anuncia que irá apresentar queixa-crime no Ministério Público devido a “ataques levados a cabo por membros da lista concorrente”.

Esses ataques, refere o comunicado, são “consubstanciados em ameaças e divulgação de inverdades nas redes sociais, bem como perseguição através de telefonemas e SMS, numa total falta de respeito pelos mais elementares princípios por que se deve revistar a civilidade, assim como pelos ideais porque se rege o partido”.

“Em defesa do bom nome individual e dos superiores interesses do partido, iremos proceder judicialmente mediante apresentação de queixa crime junto do Ministério Público, decisão essa que é irreversível”, sublinha a candidatura de Filipe Melo, defendendo “uma política positiva e inclusiva de todos os militantes” e recusando “participar em guerras”.

Mas a guerra está aberta. E o vencedor é conhecido no sábado.

 
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