Um grupo de jovens do movimento Greve Climática Estudantil juntou-se hoje junto da Assembleia da República, em Lisboa, a exigir uma recuperação económica “verde”, em linha com o Acordo de Paris sobre o clima.
“Com a crise [covid-19] que estamos a enfrentar abriram-se janelas e essas janelas podem levar tanto para um rumo melhor como para um rumo muito pior. E por isso a exigência tem de ser mesmo a nível global, que todas as medidas tomadas para a recuperação económica após a crise de covid-19 sejam de acordo com o Acordo de Paris”, disse à Lusa a ativista do movimento Bianca Castro.
As medidas de recuperação económica, na sequência da crise provocada pelo novo coronavírus, terão de ser “o mais verdes possível”, com estímulos não para resgatar as indústrias petrolíferas, mas “sim para aproveitar e dar um grande passo na transição energética”, disse a jovem.
A iniciativa de hoje não durou mais de uma hora e juntou apenas cerca de uma dúzia de ativistas, com cartazes com frases como “Catástrofe iminente, ação urgente”, ou “O futuro está nas nossas mãos”.
A ação de Lisboa foi, explicou Bianca Castro, de solidariedade com o movimento na Polónia, que convocou os jovens para exigir que a União Europeia tome medidas para reduzir em 65% as emissões de dióxido de carbono até 2030 (comparando com os números de 1990). Além da Polónia manifestaram-se jovens em mais 14 países.
Bianca Castro explicou que a ação de Lisboa foi quase simbólica e nunca pretendeu juntar muitos jovens, sendo assim possível cumprir todas as normas de segurança, tendo em conta o momento de pandemia de covid-19 que o país vive, desaconselhando agrupamentos.
Francis Salema, também uma jovem ativista do movimento da Greve Climática Estudantil, ou “Fridays For Future”, explicou assim à Lusa o principal objetivo do encontro em frente do parlamento: “Estamos aqui para relembrar a União Europeia que a recuperação económica tem de ter em conta o objetivo de diminuir as emissões de dióxido de carbono até 2030 em 65% de modo a conseguirmos evitar um desastre climático. Mesmo no meio da crise humanitária a luta climática continua”.
Por outras palavras, também da jovem, é importante que o Conselho Europeu, nas reuniões dos dias 18 e 19 sobre a recuperação económica pós-covid-19, faça escolhas que não prejudiquem o ambiente nem as próximas gerações.
Questionada se a crise provocada pela covid-19 terá feito esquecer a questão do ambiente e as alterações climáticas, Bianca Castro admite que sim mas acrescenta que os jovens não vão deixar que isso aconteça.
“Neste momento estamos a enfrentar a crise da covid-19, que é uma amostra muito pequena da crise que já estávamos a enfrentar e vamos continuar a enfrentar. E por isso também estamos aqui para relembrar as pessoas que temos de tratar todas as crises, e enfrentar a crise da covid-19 como a crise gravíssima que é, mas não esquecendo a crise sobre alterações climáticas, que é a crise maior que estamos a enfrentar”, avisou.
O movimento Greve Climática Estudantil foi iniciado na Suécia por uma jovem, Greta Thunberg, que em 2018 começou sozinha uma greve às aulas todas as sextas-feiras, sentando-se em frente do parlamento, para apelar para medidas para fazer face às alterações climáticas e de defesa do meio ambiente.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 436 mil mortos e infetou mais de oito milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.522 pessoas das 37.336 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.