Um novo livro de José de Almada Negreiros que documenta a presença assídua do cinema na vida do artista e a forma como profundamente marcou a sua obra plástica e literária, vai ser publicado este mês pela Assírio & Alvim.
Com chegada às livrarias prevista para dia 19 de setembro, este novo volume da coleção Almada Breve, intitulado “Sobre Cinema”, reúne textos, desenhos, entrevistas, correspondência e projetos, que revelam a presença assídua do cinema na vida e obra de Almada Negreiros, não só como espetador, mas também enquanto criador, mostrando uma sua faceta até agora pouco estudada, descreve a editora.
Autor de uma obra polimorfa, produzida ao longo do século XX, expressa tanto na escrita como nas artes plásticas e performativas, José de Almada Negreiros (1893-1970) foi também ator num filme mudo, escreveu sobre Charlie Chaplin e esteve atento desde a primeira hora ao cinema, “o qual marcou indelevelmente a sua obra plástica e literária”, escreve Mariana Pinto dos Santos, na introdução ao livro.
Coeditora da obra literária de Almada Negreiros (Assírio & Alvim), Mariana Pinto dos Santos explica que “esta ligação ao cinema só foi explorada de forma mais aprofundada em exposições recentes do artista a que este volume vem dar continuidade”.
Trata-se das exposições “José de Almada Negreiros: Uma maneira de ser moderno” (2017), que esteve patente na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e “José de Almada Negreiros: Desenho em movimento” (2018/2019), no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, das quais Mariana Pinto dos Santos foi curadora.
“A importância do cinema na definição das propostas artísticas de Almada fica expressa nas suas declarações de 1942 a Luís de Oliveira Guimarães, nas quais o cinema é elencado a par de outras linguagens artísticas em que trabalhou”, explica.
Nessa entrevista de 1938, Almada Negreiros afirmou: “Desenho, escrevo, esculpo, vitralizo, danço, teatralizo, ‘cinematografizo’ e, se a minha arte não falar por qualquer destas vozes, que havemos nós de fazer? Façam de conta que eu já morri – e que deixei essas obras póstumas…”.
A presença cinematográfica na sua obra é reforçada pelos textos reunidos neste volume, que inclui entrevista, crónica, poesia, ficção, ensaio, correspondência, conferência, uma apresentação de um filme (“Os Verdes Anos”, de Paulo Rocha, de 1963), um argumento para um documentário e os desenhos para lanternas mágicas.
Mariana Pinto dos Santos especifica que, em cada caso, sempre que pertinente, são publicadas imagens relativas aos textos, algumas das quais inéditas (como, precisamente as fotografias de Almada com Isabel Ruth, protagonista de “Os Verdes Anos”, e o realizador Paulo Rocha) ou são publicadas imagens por si só – as duas lanternas mágicas.
Quanto aos dois textos assinados por jornalistas presentes neste volume, são mais do que meras entrevistas, pois os autores – Novais Teixeira, em 1929, e José Francisco Aranda, em 1959 – escrevem uma parte considerável de comentário a Almada, tornando-os “elucidativos” quanto à relação deste artista com o cinema.
O primeiro texto que abre este volume é dedicado a Chaplin e foi escrito por Almada em 1921, sendo uma, mas não a única nem primeira, prova da presença de Chaplin como referencia para Almada Negreiros.
Na coleção Almada Breve, que procura reunir o essencial da obra do autor, estão já publicados os livros “Ficções Escolhidas”, “Manifestos”, “Teatro Escolhido” e “Poemas Escolhidos”.
No mesmo dia em que é publicado “Sobre Cinema”, chegam às livrarias, também pela Assírio & Alvim, dois livros de poesia, de José Agostinho Baptista e Manuel Afonso Costa.
De José Agostinho Baptista é publicada a poesia reunida num volume intitulado “Epílogo”.
Com obra publicada ao longo de mais de 40 anos, desde a estreia com “Deste lado Onde” (1976), a sua poesia tem sido reconhecida como uma das mais originais e importantes da atualidade em língua portuguesa, destaca a editora.
“O Último Romântico” (1981), “Morrer no Sul” (1983), “Canções da Terra Distante” (1994), “Debaixo do Azul Sobre o Vulcão” (1995), “Agora e na Hora da Nossa Morte” (1998), “Esta Voz é Quase o Vento” (2004) e “Caminharei pelo Vale da Sombra” (2011) são alguns dos mais de 20 títulos de José Agostinho Baptista, que recebeu o prémio PEN Clube de Poesia e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, entre outras distinções.
Em 2014, José Agostinho Baptista publicou “Assim na Terra como no Céu” em edição de autor, um livro de “luto, saudade e homenagem a alguns que partiram”, como escreveu na apresentação da obra.
O também tradutor de Malcolm Lowry, Walt Whitman, W.B. Yeats, Tennessee Williams, Paul Bowles e Enrique Vila-Matas, entre outros escritores, editou em 2000 uma primeira recolha da obra poética, sob o título “Biografia”.
O livro de poesia de Manuel Afonso Costa chama-se “Seria sempre tarde” e é um “olhar nostálgico sobre cidades e aldeias que a memória preservou, povoadas de alegria e inocência, mas também de fantasmas e desolação”.
Historiador, investigador, autor de ensaios como “Introdução ao pensamento social francês do século XVIII” e “A ideia de felicidade em Portugal no século XVIII”, tradutor de escritores como Tao Yuanming e Ambrose Bierce, tradutor de poesia e poeta, é autor de “O Roubo da Fala” (1981), obra de estreia, a que se seguiram títulos como “Os Limites da Obscuridade” (1990), “Os Últimos Lugares,” (2004), “Caligrafia Imperial e Dias Duvidosos”, (2007), e “Memórias da Casa da China e de Outras Visitas” (2017).