Artigo de Luís Moreira
Jornalista de O MINHO
O título desta crónica é controverso. Mas resulta da verdade histórica. Ou, pelo menos, do que ela poderia ter sido, um exercício sempre difícil. Em 6 de agosto de 1945, faz esta segunda-feira 73 anos, a Força Aérea dos Estados Unidos lançou uma bomba atómica de urânio (Little Boy) sobre a cidade japonesa de Hiroshima. Três dias depois caiu um segundo artefato nuclear de plutónio (Fat Man) sobre a cidade de Nagasaki. As explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil e 80 mil em Nagasaki.
O efeito político-militar dos bombardeamentos atómicos foi o de acabar com a 2.ª Guerra Mundial no Oriente, com a rendição do Japão. Na Europa, a Alemanha rendera-se em maio de 1944.
Sendo óbvio que os efeitos das duas explosões foram catastróficos, com morte e sofrimento atroz para os japoneses, não deixa de ser verdade que a sua utilização poupou dois milhões de vidas civis e militares, quer dos Estados Unidos quer do Japão.
Esta cifra resulta dos cálculos feitos pelos USA: a invasão do Japão e a continuação dos bombardeamentos sobre o país, implicariam muito mais mortos. O exército americano tinha tido enormes dificuldades para conquistar duas pequenas ilhas, a de Iwo-Jima e a de Nagasaki, em operações que custaram dezenas de milhares de vidas, dos dois lados. Ora o arquipélago japonês é constituído por dezenas de ilhas que seria preciso conquistar, antes de uma invasão generalizada, como sucedeu em França, no dia D, em junho de 1944.
Acresce que, por absurdo e cruel que tal seja, os bombardeamentos americanos, com bombas convencionais, estavam a causar dezenas de milhares de vítimas civis em várias cidades e mormente em Tóquio, onde um só incêndio generalizado matou 80 mil. As casas eram de madeira.
EUA com todo o poder
No final da Guerra, os americanos ficaram com todo o poder nuclear até 1949, quando Estaline conseguiu copiar a bomba americana. Nesses quatro anos, e também, por absurdo, os USA poderiam ter aniquilado a União Soviética e a China de Mao-Tse-Tung. Mas, felizmente, e até hoje, a atómica nunca voltou a ser utilizada, apesar de os USA terem pensado fazê-lo no final da guerra da Coreia e a situação ter ficado feia na crise dos mísseis de Cuba em 1962. No primeiro caso, o general americano Douglas MacCarthy, herói da guerra no Pacífico, propôs ao presidente Harry Truman o bombardeamento nuclear da China, e de várias das suas cidades, seguida de uma invasão. Os chineses haviam mandado os seus exércitos cruzarem o rio Yalu, entrando oficialmente na guerra ao lado da Coreia do Norte.
Mandaram dois milhões de homens, para evitar que os USA conquistassem toda a Península. Truman recusou porque temia uma reação soviética e uma internacionalização do conflito. E uma nova guerra mundial apenas sete anos depois do termo da 2.ª. O Presidente teve mesmo de demitir MacCarthy e este reagiu, lançando uma campanha anti-Presidente na América com manifestações grandiosas a seu favor. Chegou a temer-se um golpe de Estado, o que teria sido inédito na vida do país. Mas a bolha a favor do General esvaziou-se e Truman continuou no poder.
No caso de Cuba, a União Soviética instalou mísseis nucleares na ilha e o Presidente John Kennedy viu-se forçado a fazer-lhe um ultimato. O uso da bomba esteve por um fio. Mas os russos recuaram, não sem uma contrapartida, a de que os americanos retirariam os mísseis que tinham na Turquia.
Destruição mútua
A proliferação da bomba pelos maiores países redundou, e de novo por absurdo, na paz mundial de que usufruímos, ainda que com múltiplos conflitos militares regionais e locais, caso dos do Médio Oriente.
As potências concluíram que o uso da arma era impossível, dado que traria a Destruição Mútua Garantida (MAD no acrónimo inglês). Na década de 60, os teóricos da geopolítica e os militares estudaram vários cenários para as guerras futuras, entre as quais a da utilização de armas nucleares táticas, ou seja, bombas de menor capacidade que seriam despoletadas numa guerra convencional, sem que levassem ao uso das de maior potência, evitando uma guerra nuclear generalizada.
O conceito chegou ao fabrico de armas, mas nunca foi posto em prática, para bem da humanidade.
Hoje, o grande problema nuclear reside na proliferação da arma, agora produzida em estados párias como o da Coreia do Norte, ou fundamentalistas como o do Irão.
Se todos se arrogarem o direito de ter a bomba, o mundo fica, por certo, mais perigoso.