Francisco Dias, de 61 anos, e Rui Coelho, de 59, são dois dos jardineiros de Viana do Castelo responsáveis por cuidar dos mais de 800 vasos de flores que “enchem de cor e alegria” várias zonas da cidade.
“Como bons vianenses que somos, gostamos que a nossa cidade pareça bem a quem nos visita”, atira Rui Coelho.
Francisco Dias destaca também os ‘vizinhos’ espanhóis, que chegam a Viana, “ficam todos contentes e dizem: Mira, que bonitas las flores”.
Os dois jardineiros do horto municipal já perderam a conta às fotografias e ‘selfies’ que os turistas tiram junto das suas floreiras coloridas e aos elogios que recebem quando estão a cuidar delas.
Três vezes por semana, os dois funcionários, com o apoio de um carro elétrico, regam as floreiras, taças e vasos distribuídos pela cidade.
Só na Praça da República precisam de mais de três horas para regar as 453 floreiras, taças e vasos colocados nas varandas e no chafariz do centro histórico.
Nos meses de menos chuva são precisos “15 tanques de água” por semana que o carro elétrico transporta pelas artérias da cidade e que correspondem a cerca de cinco mil litros (cinco metros cúbicos) de água.
Por mês, são cerca de 60 mil litros de água retirada de captações próprias da autarquia.
Rui Coelho, funcionário do horto municipal há 11 anos, não esconde ser “um trabalho cansativo” e de “muita paciência”, recompensado com o “orgulho” que sente quando vê as pessoas satisfeitas com o resultado final. Francisco Dias partilha da “vaidade” do colega pelas petúnias, sardinheiras, helichrysum (erva do caril) e outras espécies que “pintam a cidade de diferentes cores”.
“Ouvimos muitos comentários agradáveis sobre a beleza das flores, mas há também quem reclame com a hora da rega e com outras coisas”, desabafa Francisco, há 36 anos a trabalhar no horto.
O jardineiro Rui Coelho lamenta que haja “pessoas que deitam lixo nas floreiras, estragam e puxam as plantas para levar para casa”.
“O nosso trabalho não é só regar as flores. Temos de podar, adubar, limpar os vasos de espécies infestantes, retirar beatas dos cigarros e todo o tipo de lixo que as pessoas atiram para o interior dos vasos”, acrescenta Francisco.
Trata-se, dizem, de um trabalho contínuo de “dedicação” para que as floreiras “estejam sempre todas arranjadinhas e as flores se apresentem bonitas”.
Esta dedicação dos funcionários municipais enquadra-se no projeto municipal “Florir o Centro Histórico”, que começou em 2019 e continua a crescer, e são cada vez mais as plantas e flores nas varandas e fachadas de edifícios que confrontam com o espaço público.
O trabalho dos dois jardineiros é acompanhado de perto por Artur Sá, o responsável pelo setor dos jardins de Viana do Castelo.
Desde a escolha das plantas e espécies a plantar nos vasos e nos espaços verdes da cidade, aos meios humanos e materiais, tudo é devidamente planeado.
“O efeito final é o que se pode assistir nesta altura do ano, com cores por todo o lado. Temos o aspeto menos positivo, que tem a ver com os furtos e falta de civismo e o lixo. Nós não podemos passar no local e ignorar. Isso já vai atrasar o trabalho que já está destinado porque os 800 vasos não se regam em meia hora”, explicou Artur Sá.
O carro elétrico que é utilizado na rega “já vai sendo curto” para tantas plantas e os dois elementos que delas tratam “não podem estar distraídos porque o tempo é curto”.
Nas estufas do horto municipal de Viana do Castelo produzem-se as espécies necessárias, não só para os vasos e floreiras, como para todos os espaços verdes da cidade.
“Para os espaços verdes que recebem plantações anuais são necessárias cerca 50 mil plantas e flores, por cada uma das duas épocas de sementeira”, explicou.
Para o vereador do Ambiente que lançou o “Florir o Centro Histórico”, o programa pretende “trazer à visão e à memória a flor enquanto traço icónico indelevelmente presente na história, e identidade cultural de todas freguesias do concelho”.
“É um ativo de pertença fundamental para a definição do caráter vianense”, referiu Ricardo Carvalhido.
“É através de 812 floreiras, taças e vasos, nos pavimentos e varandas, colocando em evidência que é no património genético presente nas nossas flores (plantas) que reside o maior corpo cultural das freguesias de Viana do Castelo”, reforçou.
O vereador do Ambiente apontou “as flores na memória, em motivos de cantaria, as flores de comer, as de rezar, usadas nos palmitos de Santa Marta de Portuzelo, as de vestir, presentes nos trajes antigos à Vianesa, as flores de encanto, as que curam, as que adornam por exemplo os andores floridos de Alvarães, ou as flores que asseiam, como é o caso da giesta utilizada como vassoura”.
Reportagem de Andrea Cruz, da Agência Lusa.