71 por cento dos processos enviados, para apoio social, pelo Ministério Público à Comissão de Proteção ao Idoso-Associação Regional do Norte (CPI), de Braga, envolvem mulheres com idades avançadas, com 70 e 80 anos.
O presidente da CPI, Carlos Branco revelou a O MINHO que, a análise às dezenas de casos tratados nos últimos cinco anos, mostra que os agressores são maioritariamente homens, sendo 52 por cento dos processos ligados a violência física, 29 a carência social, 16 a doença mental, e três a violência económica, havendo ainda cinco por cento com motivação desconhecida.
Salientando que a CPI trata apenas do encaminhamento social, Carlos Branco, empresário e docente universitário de Gerontologia, sublinha que “a violência contra idosos, principalmente quando ocorre em contexto doméstico, é praticada por companheiros ou descendentes, e tem grande incidência a partir dos 65 anos ou mais” .
“Importa também destacar o elevado número de situações de violência física (53,00%). O mais natural seria que a maioria das situações em que a CPI é chamada a intervir estivesse relacionada com carência social ou doença mental. Este facto confirma o entendimento de que o abuso de idosos está relacionado com outras vulnerabilidades”, assinala.
Acrescenta que “as situações de violência económica analisadas referiam-se ao aproveitamento da pensão de reforma por cuidadores cujo apoio era insuficiente e não era genuíno, mas motivado apenas pela obtenção de uma vantagem económica”.
Para o especialista, “o aspeto essencial que caracteriza a vítima e o agressor é a ambivalência. A vítima tem muitas vezes uma relação afetiva ou de dependência com o agressor, o que leva a que não represente a situação de abuso, considerando normal a forma como é tratada, ou a não reagir, ocultando a situação”.
Baixa autoestima
Conclui, por isso, que o abuso de idosos está relacionado com outras vulnerabilidades como a representação negativa da velhice e a baixa autoestima. Acentua, ainda, que, e no que respeita ao agressor, “é comum que não pretenda a situação de violência ou abuso, mas que esta resulte da sua situação pessoal ou económica”, anotando que, “atendendo às dificuldades da sua situação, entende que não lhe pode ser exigido mais no tratamento da pessoa idosa que tem a cargo”.
E conclui: “muitas vezes, a violência contra idosos está relacionada com situações de stress ou esgotamento do cuidador”.
Provedor do Idoso
A CPI criou a figura do Provedor do Idoso que funciona em Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Amares e Terras de Bouro, em cooperação com os municípios, estando em negociações em Braga, Vila Verde, Ponte da Barca e Melgaço.
Tem protocolos com o Ministério Público das comarcas de Braga, Porto-Este e Porto para a prevenção da violência. Procede ao tratamento dos dados e ao encaminhamento social das situações/problema.