40 anos separam o bombeiro mais novo do mais velho, em Guimarães

Em dia de aniversário da corporação, os dois elementos falam do que é ser voluntário

Os Bombeiros Voluntários de Guimarães foram fundados a 19 de março de 1877, a corporação completa hoje 145 anos. O comandante, Bento Marques, é o bombeiro com mais tempo de serviço, já serve há 42 anos. Francisco Fernandes é o voluntário mais inexperiente, tem um ano de serviço. Entre a experiência de um e do outro há muitas diferenças, mas também pontos de contacto.

No dia em que os Bombeiros Voluntários de Guimarães assinalam os seus 145 anos, O MINHO falou com o bombeiro mais experiente e com o mais novato da corporação. “É melhor conversarmos separadamente para ele não se sentir constrangido e falar à vontade”, avisa o comandante Bento Marques. Nos bombeiros há hierarquias, mas o comandante quer que o Francisco se sinta confortável para falar.

Bento Marques chegou aos Bombeiros Voluntários de Guimarães em 1980, tinha 18 anos, a idade mínima para ser incorporado, hoje tem 60 e é responsável pelo comando da corporação. Embora, em muitos casos, ser bombeiro seja uma tradição familiar, no que toca a Bento Marques, “foi um amigo que me trouxe, ele sim já era bombeiro e de família de bombeiros”.

Bento Marques. Foto: Rui Dias / O MINHO

“Naquela altura a formação não era tão consistente como é hoje, não havia legislação a regular. Embora tivéssemos uma boa formação, nomeadamente com sapadores do Porto”, recorda. O comandante lembra que o equipamento era ainda muito rudimentar, “ainda fazíamos salvamentos com sacos, em que se metia as pessoas lá dentro, com escadas de montar, não tínhamos escadas Magirus e o próprio socorrismo não era tão avançado como agora”.

Para o que era a realidade dos corpos de bombeiros, naquele tempo, “Guimarães até não estava mal equipado”. Mesmo assim, Bento Marques lembra-se que no primeiro combate a incêndio em que participou, ainda foi num velho Studbaker, de 1937. A viatura já tinha 44 anos, mas era o melhor que havia. “Foi o primeiro carro com bomba motorizada, mas não tinha depósito de água. Era preciso encontrar uma boca de incêndio ou ir buscar água ao rio”, explica o comandante. “Este deve ter sido o último incêndio deste carro, depois já vieram outros com água”, conta. 

Bento Marques. Foto: Rui Dias / O MINHO

Antes do Studbaker, a vida dos bombeiros era ainda mais difícil, como explica Bento Marques, mostrando uma das bombas manuais com que anteriormente se fazia o combate aos incêndios. A viatura e muitos outros objetos do passado dos Bombeiros de Guimarães vão estar em exposição no quartel dos bombeiros, nesta altura de aniversário

Francisco Fernandes, de 23 anos, entrou para a escola de bombeiros em 2019, mas só teve o seu primeiro contacto com um fogo em 2021. “Foi um incêndio rodoviário, um camião a arder, na autoestrada, perto de Vizela. Foi uma coisa com muito aparato, já estava lá a Brigada da GNR com a via cortada”, recorda. “Deram-me a oportunidade de ir na agulheta, ou seja, ser eu a controlar a manobra, sempre com o meu chefe a dizer-me o que tinha de fazer”, relata o jovem bombeiro.

Francisco Fernandes. Foto: Rui Dias / O MINHO

Os amigos perdidos na luta são inesquecíveis

Francisco diz que naqueles momentos o treino toma conta. “Aquilo que aprendemos vem ao de cima e fazemos as coisas em modo automático”, descreve. O jovem bombeiro de 3ª, para já, só tem boas recordações. Bento Marques, por outro lado, carrega o peso de alguns momentos difíceis. “Em 2004, perdi um bombeiro com 34 anos, num incêndio. Em 2007, perdi outro, com 60 anos, morreu ao meu lado, a dois passos. Nunca poderei esquecer nenhum dos dois. O segundo, morreu no dia do meu aniversário”, lamenta.

A tragédias que envolvem crianças são sempre mais tocantes, confessa Bento Marques. O comandante lembra-se da vez que foi socorrer uma criança que tinha sido apanhada por uma máquina de rasto. “Era um menino dos seus oito anos e ali estava com os intestinos todos espalhados… Não sei se sobreviveu”, suspira.

Bento Marques e Francisco Fernandes. Foto: Rui Dias / O MINHO 

Futuro incerto pela falta de voluntários

Bento Marques vê com apreensão o futuro, numa altura em que atrair jovens para os bombeiros é cada vez mais difícil. “Há 10 anos que falo na falta de voluntários. Nesta corporação já fomos 140, agora somos 100 e com o serviço a aumentar”, avalia. “O que é que o país dá aos voluntários?” – questiona o comandante Bombeiros de Guimarães. Lembra que hoje a formação dura um ano ou mais, que é preciso fazer piquetes de fim de semana e serviços de noite.

Francisco Fernandes confessa que gostaria de vir a ser bombeiro profissional. “Espero subir, pelo menos, até bombeiro de 1ª”, assume. Para o mais jovem dos bombeiros da corporação vimaranense, o problema da falta de voluntariado “é que os jovens hoje procuram uma gratificação instantânea e aqui é preciso trabalhar para receber a recompensa. Não se é bombeiro ao fim de uma semana”. Francisco fala de algumas regalias que lhe parecem muito atrativas, como a isenção de propinas na universidade.

Em comum, o bombeiro mais antigo e o mais jovem falam da camaradagem. Francisco está no ativo há um ano e não hesita em dizer que dava a vida para salvar um camarada. Bento Marques reconhece como o melhor dos seus 42 anos de carreira é a união entre os bombeiros e a oportunidade de ter visto crescer a instituição.

Bento Marques e Francisco Fernandes. Foto: Rui Dias / O MINHO

A cidade de Guimarães acordou este sábado com centenas de imagens gigantes dos Bombeiros Voluntários de Guimarães nas ruas e montras dos estabelecimentos comerciais. Trata-se de um conjunto vasto de fotografias de grande impacto visual e emocional que retratam os bombeiros vimaranenses nas mais diversas circunstâncias e junto de figuras e monumentos emblemáticos da cidade berço.

 Os Bombeiros Voluntários de Guimarães inundaram, este sábado, dia 19 de março, a cidade de grandes imagens, numa iniciativa original e criativa que foi criada especialmente para assinalar a data oficial comemorativa dos seus 145 anos. As fotografias de grande formato, colocadas na decoração de ruas e montras, mas também nos dois grandes espaços comerciais do GuimarãeShopping e Espaço Guimarães, são da autoria dos fotógrafos vimaranenses Jaime Machado, Paulo Pacheco, Francisco Mendes e Luís Sousa, a quem a direção da Associação Humanitária desafiou para retratar o tema das comemorações: “145 Anos de Amor e Serviço a Guimarães”.

A partir daquele mote para as comemorações dos 145 anos dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, aqueles quatro fotógrafos produziram um conjunto global de 45 imagens que retratam atuais e antigos comandantes com a família, bombeiros junto de monumentos e de figuras públicas reconhecidas da cidade, como por exemplo o Tio Júlio, a D. Graciete, a D. Augusta dos Caquinhos ou o Barbeiro Fadista, entre muitos outros. De igual modo, foram retratadas figuras internas do quartel que não são conhecidas do público, mas que são fundamentais para a vida e o dia-a-dia da instituição, como a telefonista, a secretária ou o técnico de manutenção.

No conjunto, centenas de grandes imagens dos Bombeiros de Guimarães estão colocadas nas principais entradas da cidade, em vários locais do espaço público, mas também em muitas montras do comércio tradicional, no GuimaraeShopping e no Espaço Guimarães. A mega exposição vai manter-se visível ao público ao longo de duas semanas, numa iniciativa que conta também com a colaboração da Câmara Municipal de Guimarães, Associação do Comércio Tradicional de Guimarães, Associação Vimaranense de Hotelaria e administrações do Espaço Guimarães e GuimarãeShopping.

João Pedro Castro. Foto: DR

“Desejamos com esta iniciativa fazer pulsar intensamente os Bombeiros Voluntários de Guimarães no coração de todos os vimaranenses, mas dando também pleno sentido ao lema que escolhemos para comemorar os nossos 145 anos de vida. Este amor e serviço a Guimarães” é muito visível e expressivo em cada uma das centenas de imagens que colocamos na rua, mostrando que todos os nossos bombeiros e bombeiras são pessoas reais, com amigos e família como todos, mas incansáveis e profissionais em todas as suas ações em prol da segurança e do socorro às pessoas e à cidade que servem e amam”, justifica e valoriza João Pedro Castro, presidente da direção da Associação Humanitária dos BVG. O dirigente agradece também publicamente a “extraordinária generosidade e contributo de todos os fotógrafos envolvidos”, bem como a “pronta e calorosa recetividade de todo o comércio” à iniciativa, além do generoso apoio da Câmara de Guimarães e dos nossos fornecedores, contributos sem os quais “seria impossível materializar este evento”.

Recorde-se que o programa comemorativo dos 145 anos dos BVG, que vai estender-se até final do corrente ano de 2022, terá este domingo, dia 20 de março, o seu dia mais solene, recuperando o formato presencial que havia sido interrompido devido à pandemia. Depois do hastear de bandeira, pelas 08h30, terá lugar uma formatura e desfile apeado e motorizado, a partir das 09h30, desde o quartel até à Igreja de S. Francisco, onde será celebrada a Missa Solene, pelas 10h00.

Ainda este domingo, junto ao Monumento ao Bombeiro, pelas 11h15, decorrerá uma singela homenagem aos bombeiros e tributo aos fundadores da instituição, seguindo-se a receção das entidades convidadas para a sessão solene, que decorrerá na parada do quartel.

 
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