“30 mil num mês 30 mil foi pouco, 30 mil num mês ya foi mês louco”. Chico da Tina, de Viana do Castelo, acaba de lançar “Tina Dance”, o primeiro single da mixtape “TINA DANCE MIXTAPE”, voltando à carga com a ostentação característica da nova vaga de hip hop em Portugal, mas desta vez sem rastro do afinador de voz Auto-Tune, privilegiando rap old-school e irónico, à moda da primeira vaga do som em Portugal (Black Company ou até os bracarenses Mini-Drunfes).
Contudo, nas letras e na música, está bem presente a imagem de marca da nova geração, uma era onde os novos artistas são pagos pelas visualizações e pelos ‘plays’ em aplicações de música como o Spotify, e não pelos discos vendidos, como as anteriores. Músicas com refrões ‘sing-a-long’ que ficam no ouvido, onde se grudam durante dias, tornando quase obrigatória uma repetição das músicas ‘cola-cola’, que se estranham e entranham.
Mas como diz a música, de facto, Chico não se pode queixar. Atualmente, tem mais de 130 mil ouvintes fiéis no Spotify, quase metade provenientes de Lisboa, e poucas são as suas músicas que não atingiram mais de dois milhões de ‘plays’. Algumas, como Ronaldo ou Resort, foram ouvidas quase 10 milhões de vezes.
A esse propósito, na inspiração para o novo single de Chico da Tina – ou Francisco da Concertina, como aponta a biografia do artista no portal da sua editora Sony Music – destaca-se a seguinte quadra: “Eu já tou rico e a procissão só vai no adro / um grande f*ck se não sou do teu agrado / eu já tou rico e sem fazer um caralho / eu juro, eu nunca hei-de ter trabalho” onde é seguida a linha de outros fenómenos da cultura recente do hip hop, como SippinPurp e o seu famoso “só quero ouro no pescoço”.
Recorde-se que populares rappers e produtores portugueses como Regula ou Valete têm ‘virado’ as costas a alguns destes fenómenos das subculturas do hip hop que apostam no ‘trap’ ou no ‘mumble’, muitas vezes criticados por falta de conteúdo nas rimas. SippinPurp, de Ovar e que a par de Chico da Tina, ProfJam ou Lon3rJhonny (rappers lisboetas) se tornou bastante conhecido por entre o público jovem graças às redes sociais, lamenta que os rappers de segunda geração, de quem se considera “filho”, critiquem a ‘terceira vaga’, reduzindo-a àquilo que a sustenta – visualizações.
Não fez mesmo “um caralho”?
Dito isto, e regressando a Viana e ao ‘nosso’ Chico da Tina, será que se pode dizer que o sucesso do rapper foi mesmo alcançado “sem fazer um caralho”, como refere no novo single? A resposta é, claramente, não. Com os já mencionados fenómenos, soube agarrar a oportunidade e criar algo diferente que já entrou para a história do hip hop e da cultura urbana em Portugal como um ‘virar’ de capítulo que deu uma nova vitalidade a esse estilo de música, deixando cada vez menos espaço nos ‘tops’ para outras correntes alternativas como o rock ou a dance.
É que se o sucesso se vai medindo com os ‘plays’, o trabalho mede-se também pela quantidade de músicas e vídeoclipes apresentados nos últimos três anos, ‘alimentado’ assim os fãs, ávidos por mais e mais Chico.
Embora os números de visualizações deste novo single no YouTube ainda se encontrem bastante abaixo (68 mil) daqueles a que o minhoto nos habituou, “Tina Dance” abre o apetite para a ‘mixtape’ e, quem sabe, para mais uma ‘viragem’ que arraste toda a cultura ‘pop tuga’ durante os próximos anos.
A falta de Auto-Tune no novo single passa pela evidência do sotaque nortenho de Chico, bem perceptível na “Tina Dance”, onde, também de forma clara, se assume como minhoto sem recorrer a expressões mais características da capital, ao contrário de outros membros nortenhos da nova vaga de rap que já trocam os “carros” por “botes”. Com o Chico, para já, “bote” é só de borracha, e nos concertos, com o ‘botesurfing’ que o eleva sobre os fãs.
Não dá entrevistas
Nascido em Viana, no ano de 1996, quase nada se sabe da vida pessoal de “Chico da Tina”, até porque o próprio faz questão de não o revelar. Ao contrário de outros fenómenos do ‘trap’ em Portugal, não dá entrevistas, só concertos (e muita ‘tanga’). Quase tantos como os prémios que já ganhou.
Em 2019 lançou no youtube “Põe-te Fino”, incluído do EP “Trapalhadas”, um trap com a sua concertina e castanholas, e rapidamente este seu primeiro single se tornou viral, alcançando mais de um milhão e meio de visualizações.
Ainda no mesmo ano lança o álbum “Minho Trapstar”, um registo com músicas repletas de letras críticas e caricaturais que, juntamente com sua imagem, criam uma combinação inédita entre o trap, a concertina e as gírias regionais, unindo a tradição e a modernidade como poucos. “Minho Trapstar”, “Romarias” ou “Freicken” são alguns dos temas incluídos neste álbum.
Desde então, Chico da Tina assinou contrato com a Sony Music Portugal e viu os seus temas “Freicken”, “Ronaldo” e “Resort”, atingirem o galardão de ouro, tornando-se assim no mais representativo e original trapstar português.