O camarote do médico e dramaturgo português Bernardo Santareno no navio-hospital Gil Eannes é um dos 27 espaços que abre, esta sexta-feira, a bordo do navio que Viana do Castelo transformou em museu há 22 anos.
Em declarações, na quinta-feira, à agência Lusa, João Lomba da Costa, do conselho de administração a fundação Gil Eannes, que gere a embarcação, explicou que a intervenção, realizada nos últimos dois anos, representou um investimento de cerca de 200 mil euros.
Além do camarote do médico Martinho do Rosário, que, com o pseudónimo literário Bernardo Santareno, se tornou num dos mais conhecidos dramaturgos portugueses, abre ainda aos visitantes a biblioteca do hospital, a lavandaria, farmácia, casa de secagem, engomadoria, as copas e as enfermarias.
“Com a reconstituição daqueles espaços, tal como eram quando o Gil Eannes foi construído pelos estaleiros navais, em 1955, está concluída a reabilitação das áreas expositivas do navio”, afirmou João Lomba da Costa.
O programa comemorativo do 22.º aniversário do regresso do navio a Viana do Castelo, que decorre entre sexta-feira e domingo, inclui ainda a estreia, a bordo do navio, da peça “Gil Santareno Eannes”, com encenação de Ricardo Simões e Ana Perfeito e interpretada por 40 atores amadores das três oficinas promovidas pelo Teatro do Noroeste-CDV.
Visitas gratuitas e o lançamento de dois livros sobre o navio completam as comemorações.
O regresso do navio-hospital Gil Eannes à capital do Alto Minho aconteceu a 31 de janeiro de 1998. Ao longo de vários meses foi recuperado nos ainda Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), onde tinha sido construído em 1955, para apoiar a frota bacalhoeira portuguesa nos mares da Terra Nova e Gronelândia.
Em agosto de 1998 abriu portas como navio-museu, gerido pela fundação, de iniciativa municipal, tendo desde então sido visitado por mais de um milhão de pessoas.
Segundo João Lomba da Costa ainda falta reabilitar os porões do navio-museu, intervenção que disse não estar prevista a curto prazo.
“Trata-se de uma intervenção mais complexa e dispendiosa. É necessário criar acessos e definir conteúdos para a sua utilização pelos visitantes. No futuro, poderão ser criadas salas interativas, com recurso às novas tecnologias para recriar os ambientes de pesca daqueles tempos. No entanto, não é um projeto que esteja nos horizontes da fundação para os tempos mais próximos”, reconheceu.
O navio-museu é gerido por uma fundação que “tem como missão transformá-lo num polo de atração da cidade de Viana do Castelo, desenvolvendo iniciativas destinadas aos mais diversos públicos e entidades, tendo por base a transmissão de valores e conhecimentos das artes marítimas, sobretudo da assistência que prestou à frota bacalhoeira da pesca à linha, nos mares da Terra Nova e Gronelândia”.
Chegou a ser navio capitania, navio correio, navio rebocador, garantindo abastecimento de mantimentos, redes, isco e combustível aos navios da pesca do bacalhau. Há 22 anos, as visitas ao navio consistem na passagem pela ponte de comando, cozinhas, padaria ou pela casa das máquinas, mas também pelo consultório médico, sala de tratamentos, gabinetes de radiologia e bloco operatório.
A bordo existe ainda um simulador que permite navegar, virtualmente, a saída da barra de Viana do Castelo.
Em novembro de 2014, abriu portas a bordo do navio o Centro de Mar que representou um investimento de 550 mil euros financiado pelo Programa Operacional Regional do Norte (ON2) 2007-2013, no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN).
O novo espaço dispõe, entre outras valências, de equipamentos multimédia, áreas de apoio ao empreendedorismo e economia náutica e permite experiências audiovisuais interativas.
O navio está ainda dotado de um percurso museológico e interpretativo sobre a cultura marítima de Viana do Castelo e de um Centro de Documentação Marítima.