É um recorde. O serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Braga bateu na sexta-feira o recorde de partos realizados num só dia (24 horas) com o total de 25 nascimentos no bloco de partos.
Com uma média anual de 3.300 partos, em média costumam nascer nove bebés por dia naquele serviço hospitalar, contabilizando-se assim um aumento súbito para o triplo dos partos.
Gorete Pimentel, enfermeira-obstreta naquele serviço, adiantou os números a O MINHO, revelando que foram 24 horas de muito trabalho, não só para os médicos mas, sobretudo, para os enfermeiros obstetras.
A responsável explica que cada enfermeiro tem a seu cargo três parturientes, e tem chegado perfeitamente, mas em dias como o de ontem seria impossível, havendo necessidade de reforço.
“Na nossa equipa são cinco enfermeiros – um para as urgências, três para o bloco de partos e um para apoio na sala cirúrgica do bloco de partos. Num dia como o de ontem, todos os enfermeiros são mobilizados para o bloco de partos, de forma a ajudar”, disse.
O mesmo sucede com os quatro médicos obstetras da equipa, que estão também divididos entre urgência, bloco de partos e internamento.
Apenas dessa forma foi possível bater o recorde de nascimentos num só dia, e logo 25 novas crianças, todas bem de saúde.
Reorganização das maternidades e o papel do enfermeiro
Gorete Pimentel, que é também presidente do Sindicato Independente de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU), comentou ainda as recentes notícias que dão conta de um estudo que aconselha ao encerramento de alguns serviços de obstetrícia no país, incluíndo o de Famalicão, enunciando que sempre que fecha um organismo público, abre um privado.
“Tenho pena que se fechem maternidades públicas pois estas fazem falta e temos os enfermeiros obstetras disponíveis para assumirem as suas competências legisladas. Isso incomoda-me porque acho que é o que vai acontecer, até pela história, que nos diz que quando fecham serviços públicos depois abrem no privado”, considerou, lamentando que não se olhem para os enfermeiros da mesma forma com que se olham para os médicos.
“É preciso reorganizar o trabalho nas maternidades para resolver estas questões, e não encerrar. Note-se que o enfermeiro obstreta é quem está na frente da sala de partos e pode fazer a consulta de baixo risco de grávida, pode acompanhar e fazer o parto. É importante falarmos nisto, até porque já existe legislação europeia em relação à autonomia dos enfermeiros, mas aqui o poder médico tem bloqueado esse progresso”, sustentou.
Gorete Pimentel confidenciou que, quando começaram a surgir os problemas na maternidade de Braga, por falta de médicos, os enfermeiros disponibilizaram-se, através de missivas enviadas às altas instâncias governamentais e ao próprio hospital, para assumir os internamentos de baixo risco e a vigilância total que é da competência dos enfermeiros obstetras, mas nunca houve resposta a nível superior.
Outra crítica deixada pela enfermeira obstreta passa pelo atraso das consultas em Ginecologia: “Temos consultas atrasadas em Ginecologia porque temos ginecologistas que estão a trabalhar muitas horas no bloco de partos”, lamenta.
A enfermeira obstetra termina com o repto para que se “fale mais nos excelentes cuidados do serviço de saúde público e dos enfermeiros que o compõem.