25 anos do 1.º festival de Arcos de Valdevez: Foi um “desastre” financeiro mas “marcou uma geração”

Três dias de loucura que ficaram na memória coletiva do concelho
25 anos do 1. º festival de arcos de valdevez: foi um "desastre" financeiro mas "marcou uma geração"
Foto: Miguel Lobo

“Em termos financeiros foi um desastre. Em termos culturais, foi um grande festival”. A frase é de César Pinto, um dos elementos da organização do 1.º Festival de Arcos de Valdevez e resume, de forma clara, a história do único evento do género no concelho arcuense.

Em agosto de 2000, o Paço de Giela tinha acabado de ser adquirido pela autarquia, e foi o cenário escolhido para um festival de música com um cartaz sublime e arrojado, que se encheu de público vindo de todo o país, mas que deixou um amontoado de dívidas que foram sendo pagas, ao longos de vários anos, e a título pessoal.

Vinte e cinco anos depois, O MINHO falou com algumas pessoas ligadas ao festival. Apesar da “desgraça” financeira, o evento ficou na memória coletiva de uma geração, que ainda hoje recorda o momento com um sorriso nos lábios e um brilho nos olhos.

O 1.º Festival de Arcos de Valdevez decorreu em 08, 09 e 10 de agosto de 2000, entre os eventos da Zambujeira do Mar (Meo Sudoeste) e Paredes de Coura, e com nomes como Bentley Rhythm Ace, The Fall, Cranes, Delta 72, Death in Vegas, The Troggs, Einsturzende Neubaten e Primal Scream, como cabeças de cartaz.

“Foi muito arrojado pelo cartaz e até pela data. Na altura, não havia festivais a meio da semana”, lembra César Pinto, ao nosso jornal, como porta-voz da organização.

Momentos antes do concerto, foi anunciado que o vocalista da banda cabeça de cartaz, Bobby Gillespie, tinha ficado doente e retido em Madrid, por isso não iria juntar-se aos restantes elementos que já se encontravam em Arcos de Valdevez.

De forma voluntária, e sem cobrarem mais por isso, os Einsturzende Neubaten fizeram questão de subir ao palco para substituir os Primal Scream, e acabaram por dar um concerto memorável de cerca de três horas. “Foi uma coisa arrepiante, fora de série”, recorda César Pinto.

Ambiente informal, desorganização e excessos marcaram (positivamente) a memória de quem lá esteve

“Foi um ambiente como já não se vê nos festivais de agora. Era um ambiente de uma festa de aldeia. As bandas estavam misturadas com o pessoal que andava a trabalhar, com os seguranças, com os jornalistas e fotógrafos. Não havia barreira nenhuma. Os músicos chegavam e sentavam-se connosco. Houve bandas que ficaram os dias todos para assistir aos concertos dos outros”, lembra Miguel Lobo, fotógrafo e espetador assíduo durante os três dias do evento.

O ambiente informal e de proximidade descambou em excessos de vária ordem e numa desorganização interna no decorrer do festival. Até gelados voaram para o público, de forma gratuita, traduzindo mais um prejuízo para a organização. E os músicos, já “muito perdidos”, passeavam e misturavam-se no meio das pessoas, sem qualquer tipo de restrição.

“Estiveram lá bandas de culto, fabulosas, e o ambiente era completamente informal. Foi um festival magnífico, muito intimista e com um cartaz alternativo”, recorda também Francisco Araújo, um dos muitos arcuenses que não perderam um dia do festival. E “marcou uma geração”.

Era possível falar com os vocalistas e outros elementos das bandas, no meio das tendas de café ou de comida. E no palco houve boa música, muita mística e até nudez a servir de microfone.

Já a “bilheteira foi um desastre total”. “Muitos bilhetes oferecidos, pessoas a entrar de graça, uma desorganização entre seguranças, bilheteiras”, relembra ainda César Pinto.

Organização ficou a pagar dívidas ao longo dos anos

O evento surgiu através da Associação Amigos do Paço, criada com o objetivo de promover um festival em Arcos de Valdevez e liderada por três jovens da terra – César Pinto, José Carlos Gonçalves e Lago Pontes.

Inexperientes nestas andanças, e com idades entre os 22 e os 24 anos, juntaram-se a um produtor que, no fim, acabou por sair de fininho, e deixá-los com dívidas na ordem das centenas de milhares de euros.

“Não tínhamos experiência e depois fomos mal assessorados. A empresa de produção estava mais interessada em agenciar do que produzir o festival. E deixou-nos as coisas nas mãos. Não tínhamos experiência e, de repente, ficou um barco muito grande”, assegura César Pinto.

“A ideia começou por fazer um pequeno festival, as coisas foram-se proporcionando, fomos conhecendo produtores de outros festivais, fazendo reuniões. Havia grandes produtores nacionais que estavam interessados, mas na altura queríamos fazer uma coisa mais pequena. Acabámos por nos meter com um produtor que não foi a melhor solução. E daí foi o desastre financeiro total”, revela César Pinto.

“Antes do festival, havia várias pessoas a dar a cara. Depois, ficamos os três a resolver os problemas e as dívidas”, recorda. E foram pagando, durante vários anos, através de acordos financeiros.

Hoje em dia, cada um deles é um empresário reconhecido e respeitado na região, nas áreas da diversão noturna, restauração e bar, e organização de eventos. E a amizade ficou para a vida.

“Eu tenho boas memórias, e a minha atividade profissional começa daí. Comecei a exercer esta atividade no mundo dos espetáculos e dos eventos. Para mim, foi a minha universidade, o meu curso intensivo. Foi caro, muito caro, mas aprendi muito”, refere, entre risos, César Pinto.

“Independentemente de tudo, é uma marca que ficou na memória de uma geração. Na Casa das Artes de Arcos de Valdevez, cruzamo-nos, muitas vezes, com músicos que atuaram ou vieram ver o festival. E, ainda hoje falam sobre isso e guardam boas memórias”, garante.

 
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