ARTIGO DE JOÃO RODRIGUES
Presidente da JSD Braga
Da admissibilidade de uma Geringonça Municipal em Braga
De há uns tempos para cá, de repente e contra todos os prognósticos, parece que, aos olhos de muitos, a possibilidade de os três partidos que hoje constituem a Geringonça se coligarem é uma demonstração política perfeitamente normal e, portanto, aceitável – aos olhos dos partidos que as compõem e, naturalmente, dos eleitores.
É natural que assim seja: em boa verdade, gostando-se ou não da forma como a Geringonça nos tem governado, politicamente, a aliança parece estar a funcionar: o Partido Socialista tem caminho livre, suportado numa aliança que, nas palavras de António Costa e dos líderes dos outros dois partidos, se mantém saudável, coesa e sem vislumbre de desentendimento futuro, mesmo a longo prazo. Os três líderes – António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa – não se cansam de o dizer, repetindo-o ao mínimo sinal contrário, à mínima interpelação. (Note-se a não inclusão do PEV ou seu dirigente – Jerónimo de Sousa basta)
Ao mesmo tempo – qualquer um consegue perceber –, esta airosa condição exige muito trabalho: não necessariamente na execução concreta de políticas (António Costa, pelo governo e pelo PS, já demonstrou que, para já, cede, sem pejo, ao mínimo sinal de advertência dos outros dois partidos), mas ao nível de articulação do que pode e não ser dito, do jogo da aparência, de uma espécie, não de Guerra Fria, mas de Aliança Morna, ao longo da qual vão sendo dados passos: uns para a frente, outros para trás; subindo-se uma escada, descendo-se duas.
Já questão diversa é a de se saber o que se passará nas próximas autárquicas e como é que estes três partidos aproveitarão (para o bem ou para o mal) este novo modus operandi.
Curiosamente – ou não – uma aliança destes três partidos em Braga parece ser a que mais tem motivado tomadas de posição, quer ao nível dos dirigentes nacionais dos três partidos, quer ao nível concelhio, onde, apesar de ainda ninguém ter dado um passo em frente, um passo concreto e assumido, se demonstram todos (os intervenientes) dispostos a não pôr, de modo algum, a hipótese de lado.
Pois que se, no País, com maior ou menor argúcia, os três partidos conseguiram – ou tentam – pôr de lado as diferenças de morte que os separam, não deixa de ser também verdade que, em Braga, a questão é – tem de ser – necessariamente diferente. (Assumamos já, à partida, que o pouco independente “Cidadania em Movimento”, unicamente representado por dois dirigentes do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal, é isso mesmo: o Bloco de Esquerda – um Bloco de Esquerda revestido de um cinismo que não só não levou, com não levará a lado nenhum)
Resumindo-nos ao caso concreto, não podemos esquecer nunca o historial autárquico em Braga: 37 de Partido Socialista, 37 anos ininterruptos de Mesquita Machado. De Mesquita Machado e de tudo aquilo que o acompanhou durante anos. Jobs for the boys, negócios e negociatas, suspeitas, coisas esquisitas. Um crescimento errado da cidade enquanto espaço. Um crescimento errado da cidade enquanto motor de desenvolvimento de si mesma e dos seus cidadãos. Prioridades trocadas. Erros e despesa. Milhões desperdiçados. Milhões deitados ao lixo. Milhões postos nas mãos (in)certas. Compadrios. Cimento e mais cimento. Empurrões com a barriga nos problemas que só agora estão a ser resolvidos. E daqueles que só as próximas gerações conseguirão resolver. Tempo perdido.
Dirão alguns que tudo isto já lá vai. Dirão alguns que o PS em Braga agora é outro.
Mas não é.
O PS em Braga continua o mesmo. E continuará enquanto que o próprio partido não assuma e se aperceba que o caminho a seguir no concelho tem de ser diametralmente oposto daquele foi seguido durante anos e que, tantas vezes, continua a ser defendido e propagado como modelo a seguir. Como demonstração do que acaba de ser dito, note-se a postura do partido e dos seus dirigentes nestes anos de oposição. Há poucas ou nenhumas propostas (as que há, são pouco sérias) e o PS perde grande parte do seu tempo a tentar desculpar os erros do passado. Isto e a lançar suspeitas sobre tudo e todos, na esperança de colar o barro à parede e de afastarem, do próprio PS Braga, a imagem de partido suspeito. É isto que o PS Braga hoje faz. É assim que o PS Braga se mantém. É isto que hoje vale e significa o PS Braga. O PS Braga não se renova, mantendo-se preso às teias do passado. As caras até vão mudando: mas quem manda, quem mexe e dispõe, quem tem as mãos e o cérebro no partido, esses, continuam a ser os mesmos.
E, com isto, chegamos ao que realmente importa: podem o PCP e o Bloco, em Braga, pôr tudo isto de lado? Podem esquecer, de um momento para o outro, tudo aquilo que combateram ferozmente durante tantos anos? Podem optar que este seja agora o seu caminho?
Poder até podem. Podem tudo.
No final, far-se-ão as contas. Em outubro.
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